As crianças com ambliopia, doença comumente conhecida como “olho preguiçoso”, podem ter a função ocular alterada. Isso pode resultar em dificuldades em atividades para as quais os movimentos sequenciais dos olhos são importantes, como a leitura. Um novo estudo determinou que as crianças com ambliopia lêem mais lentamente do que crianças com visão normal ou do que crianças que tem apenas estrabismo. Os achados foram publicados no Journal of American Association of Pediatric Ophthalmology and Strabismus (AAPOS).
O estudo determinou pela primeira vez que a ambliopia e, não o estrabismo, foi identificada como o fator chave na leitura mais lenta em crianças em idade escolar. Estudos anteriores não imitavam as condições naturais de leitura que a criança normalmente encontrava na escola, ou seja, a leitura silenciosa binocular de parágrafos apropriados para cada série escolar, à distância habitual de leitura. Estes estudos avaliaram indivíduos com ambliopia e estrabismo e, portanto, eram incapazes de avaliar o efeito do estrabismo sozinho na leitura.
Para chegar a esses resultados, três grupos de crianças foram formados: 29 crianças com ambliopia, com ou sem estrabismo, 23 crianças tratadas de estrabismo, mas sem ambliopia e 21 crianças com visão normal.
As crianças leram silenciosamente um parágrafo de texto usando os dois olhos simultaneamente, enquanto estavam equipadas com o ReadAlyzer, um sistema de gravação do movimento dos olhos durante a leitura. Os pesquisadores mediram a taxa de leitura, o número de movimentos sacádicos dos olhos para adiante e para trás, por 100 palavras e o comprimento das pausas oculares. A compreensão foi avaliada com um questionário de 10 itens. Apenas os dados das crianças com pelo menos 80% de respostas corretas foram incluídos, de modo que era improvável que a leitura prejudicada em crianças amblíopes fosse devido às dificuldades de compreensão.
“A ambliopia faz com que as crianças leiam significativamente mais lentamente do que as crianças com estrabismo, sem ambliopia, e do que as crianças sem problemas de visão. Não houve diferença estatística significativa na taxa de leitura entre crianças estrábicas, sem ambliopia, e crianças com visão normal do grupo de controle. Do mesmo modo, as crianças amblíopes tiveram cerca de 35% mais movimentos oculares durante a leitura do que as crianças estrábicas, sem ambliopia, ou crianças com visão normal”, explica o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
O olho preguiçoso
“A ambliopia ou “olho preguiçoso” é caracterizada por uma diminuição da acuidade visual, quando um dos olhos desenvolve uma boa visão, enquanto o outro, chamado de amblíope, não, o que torna a visão mais pobre, explica Bruna Ducca, oftalmopediatra do IMO, especializada em estrabismo também.
A ambliopia é uma condição comum: cerca de duas ou três em cada 100 pessoas apresentam a condição. A doença é a principal causa de cegueira infantil monocular e de deficiência da visão infantil. “A ambliopia é a causa mais comum de deficiência visual na infância, afetando cerca de 2-3% das crianças nos Estados Unidos. A menos que seja tratada com sucesso na primeira infância, a ambliopia geralmente persiste na idade adulta”, afirma Bruna Ducca.
Detecção precoce é fundamental
Se o “olho preguiçoso” não é detectado e tratado ainda na primeira infância, a visão daquele olho fica pior porque não está sendo usada. Hoje, muitos oftalmologistas dedicam-se ao estudo do tratamento da ambliopia após os 07 anos de idade, tentando determinar se o esforço é válido. “As pesquisas recentes apontam alguma melhora na acuidade visual do ‘olho preguiçoso’ em crianças com idade de até 12 anos. O que não sabemos ainda é se com a idade avançada, esta melhoria vai perdurar após a interrupção do tratamento e se a perda de percepção de profundidade pode ser revertida”, informa a oftalmopediatra.
Portanto, o consenso médico é que quando mais cedo a ambliopia for diagnosticada, melhor. “A melhor época para o tratamento da ambliopia é durante o início da infância, pois para ter uma visão normal, é importante que ambos os olhos desenvolvam a capacidade de ver com igualdade. O desenvolvimento da visão ocorre até cerca dos sete anos de vida. Se uma criança tem ambliopia e não pode contar com a visão de um de seus olhos, sua visão não se desenvolve corretamente e pode até diminuir”, explica Bruna Ducca.
Razões para tratar a ambliopia
- O olho amblíope pode desenvolver um defeito visual grave e permanente;
- A percepção de profundidade (ver em três dimensões) pode ser perdida. Para ter uma boa visão, em ambos os olhos, é necessário para que a noção de profundidade se desenvolva;
- Se o olho que não foi afetado pela ambliopia torna-se doente ou é ferido, isto pode significar uma baixa visão durante o resto da vida.
Importância do tratamento da ambliopia
O tratamento padrão para a ambliopia é bloquear a visão temporariamente no “olho bom” para forçar a criança a usar “o mais fraco”. É muito importante que a criança esteja usando a prescrição correta dos óculos quando necessário; muitas vezes, a acuidade visual melhora apenas com o uso dos óculos. Quando a penalização do “olho bom” é indicada, os métodos mais comumente utilizados são a oclusão, em que um tampão é usado sobre o olho dominante, e a instilação de colírio de atropina, que embaça a visão no olho preferencial. “Dessa forma o olho amblíope assume a fixação e o cérebro é estimulado a enviar os sinais visuais a ele. O oclusor adesivo é o método preferencialmente utilizado inicialmente no tratamento da ambliopia, sendo a atropina uma opção secundária em casos selecionados” informa a oftalmopediatra Bruna Ducca.
Atualmente, estão sendo realizados muitos estudos com enfoque no tratamento binocular da ambliopia, ou seja, com a estimulação dos dois olhos, com auxílio de aplicativos para “tablets”.