Dirigir e deparar-se com semáforos, andar por linhas de metrô identificadas com cores e compreender ‘o que dizem’ os carregadores de celular com recursos bicolores – tarefas que para a maioria das pessoas não passam de rotina – podem representar um desafio para os daltônicos.O daltonismo é uma doença congênita que provoca a confusão na percepção das cores, principalmente entre o verde e o vermelho.
“O daltonismo é uma condição transmitida geneticamente de maneira bastante peculiar. Todas as anomalias de verde e vermelho são herdadas num padrão recessivo, o que significa que aparecem quase que exclusivamente em homens. As mulheres são, na maioria das vezes, as portadoras do gene. Elas têm visão para cores normais, mas seus filhos têm 50% de chance de manifestar a anomalia”, explica o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do Instituto de Moléstias Oculares, IMO. A freqüência do daltonismo é muito maior entre os homens (5%) do que entre as mulheres (0,25%).
O que é daltonismo?
No fundo do olho existem fotorreceptores, células chamadas cones e bastonetes, que recebem, transformam e enviam a informação luminosa ao cérebro, Na região central da visão prevalecem os cones, que são responsáveis pela percepção de cores e possuem pigmentos visuais distintos para as três cores primárias: vermelho, verde e azul. “Os daltônicos apresentam anomalias nos cones, o que os faz perder a capacidade de identificar as cores primárias total ou parcialmente”, explica o oftalmologista Eduardo De Lucca, que também integra o corpo clínico do IMO.
Daltônicos que confundem duas cores primárias são classificados como dicromatas. Entre eles estão os que misturam o verde e o vermelho (e vice-versa) e, bem mais raros, os que confundem o azul com as outras cores básicas. Os tricromatas podem ter dificuldade para enxergar o verde e suas nuances. O mesmo acontece com o vermelho e o azul, sendo o último mais raro. Daltônicos tricromatas têm dificuldade para diferenciar tonalidades de uma mesma cor e cores próximas. Ainda mais incomuns são os daltônicos acromatas, que enxergam apenas preto, branco e tons de cinza. Casos de acromatopia são raríssimos, cerca de um em cada 300 mil pessoas.
Convivendo com a doença
Existem diversos testes para detectar se uma pessoa é daltônica. O mais usado é o teste de Ishihara. “A doença é normalmente diagnosticada na infância, quando a criança começa a confundir cores”, esclarece a oftalmopediatra do IMO, Maria José Carrari.
É importante que isso aconteça o mais cedo possível, para que os professores sejam alertados e o desempenho do aluno não seja afetado. “As confusões podem acontecer em aulas como as de Geografia, em que códigos de cores são muito usados para determinar a localização de pontos”, diz Maria Carrari.
Atualmente não se conhece tratamentos para esse distúrbio; contudo, sendo conhecedora de suas limitações visuais, uma pessoa portadora de daltonismo pode ajustar-se a elas e levar uma vida normal. O daltonismo não é considerado uma doença debilitante, apesar de dificultar algumas atividades diárias e impossibilitar certas escolhas profissionais. “Um daltônico nunca poderá ser piloto de avião, engenheiro elétrico, eletricista, maquinista ou trabalhar com navegação marítima porque as cores são essenciais para estas profissões”, diz a médica.
Por outro lado, daltônicos já foram muito requisitados em guerras para encontrar pontos camuflados. Isso acontece porque, mesmo com dificuldades de identificar as cores, eles possuem excelente capacidade de perceber a diferença de profundidade das imagens. “É importante lembrar que a capacidade visual desse indivíduo não está comprometida”, diz a oftalmologista.
Daltônicos não podem dirigir
Talvez, a maior limitação do daltônico seja a proibição para dirigir. Segundo a legislação brasileira, a Resolução Nº 80, de 19-11-98, do Conselho Nacional de Trânsito, exige avaliação oftalmológica (art. 1º, Anexo I, item 2.1, a). Na avaliação oftalmológica é exigida visão cromática (item 3.3.4). E por sua vez, na visão cromática consta que “o candidato deverá ser capaz de identificar as cores vermelha, amarela e verde” (item 3.8.1).
Veja aqui a resolução na íntegra: http://www.denatran.gov.br/resolucoes.htm