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Ficar cego: temor relacionado ao ceratocone

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O ceratocone é uma doença que se manifesta em pessoas mais jovens e se caracteriza pelo adelgaçamento da córnea que vai ficando mais pontiaguda. Essa irregularidade interfere na curvatura do olho, aumentando o astigmatismo e, consequentemente, distorcendo muito a imagem. “Ficar cego é o temor mais frequente diante da diminuição progressiva da visão, que aparece durante a adolescência ou no começo da vida adulta”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do Instituto de Moléstias Oculares, IMO.

A córnea fica mais fina e, sob ação da pressão interna do olho, ele se projeta para frente formando um cone. Deformada, a córnea não serve mais como uma boa superfície refratora da luz e a acuidade visual fica prejudicada. Não há como reverter esse processo. “O que pode ser feito é buscar a estratégia mais adequada para melhorar a qualidade de vida do portador dessa condição”, explica Centurion.

Muitas pessoas não percebem de imediato que tem a doença, porque esta se apresenta disfarçadamente, por vezes, confundindo-se com a miopia ou o astigmatismo. O primeiro sintoma que leva um paciente a procurar o oftalmologista é a visão embaçada, que num primeiro momento pode ser diagnosticada apenas como astigmatismo.

Caso o oftalmologista suspeite de ceratocone, pode solicitar um exame chamado topografia corneana, que irá diagnosticar os casos da doença em sua fase inicial. Mesmo assim, o diagnóstico precoce não impede que a moléstia evolua. A topografia corneana computadorizada ou fotoceratoscopia pode fornecer um retrato mais acurado da córnea e mostrar irregularidades em qualquer área da superfície da córnea. O ceratocone pode resultar em um mapa corneano extremamente complexo e irregular, tipicamente mostrando áreas de irregularidades inferiormente em forma de cone, o qual pode assumir diferentes formas e tamanhos. O exame deve ser realizado freqüentemente e possibilita uma melhor adaptação das lentes corretivas do problema por criar um mapa corneano individualizado.

Causas da doença

Geralmente, o ceratocone surge na adolescência, em média por volta dos 16 anos de idade. Raramente, desenvolve-se após os 30 anos de idade. Afeta homens e mulheres em igual proporção e em 90% dos casos afeta ambos os olhos. Em geral, a doença desenvolve-se assimetricamente: o diagnóstico da doença no segundo olho ocorre cerca de 5 anos após o diagnóstico no primeiro olho. “A doença progride ativamente por 5 a 10 anos e então pode estabilizar-se por muito tempo. Durante o estágio ativo, as mudanças podem ser rápidas”, informa o oftalmologista Edson Branzoni Leal, que também integra o corpo clínico do IMO.

A origem da doença ainda não é conhecida, acredita-se que seja de origem hereditária e não há métodos de diagnosticá-la logo no início. Portanto, filhos de portadores de ceratocone precisam ficar mais atentos ao problema. É possível que o ceratocone seja o resultado final de diferentes condições clínicas. “Dentre estas condições clínicas, já são bem conhecidas a associação de doenças hereditárias, doenças atópicas (alérgicas), certas doenças sistêmicas e o uso prolongado de lentes de contato”, diz Leal.

Estudos apontam uma possível relação entre processos alérgicos e o aparecimento do ceratocone. No grupo de 1209 indivíduos acompanhados pelo Collaborative Longitudinal Evaluation of Keratoconus (CLEK), o maior estudo de acompanhamento de pacientes com a doença, 53% apresentou algum tipo de alergia ou febre do feno (hay fever), uma rinite alérgica sazonal. O problema maior está quando essa alergia provoca coceiras intensas no olho. Se o paciente tem curvatura maior que o padrão e é um “coçador dos olhos”, é preciso tratar essa alergia com medicamentos antialérgicos. Senão, os riscos de machucar a córnea são mais altos.

Pacientes com ceratocone têm modificações frequentes nas prescrições dos óculos em curto período de tempo e, no estágio avançado da doença, os óculos já não fornecem uma correção visual satisfatória. “Estes pacientes freqüentemente relatam diplopia (visão dupla) ou poliopia (visão de vários objetos) no olho afetado e queixam-se de visão borrada e distorcida tanto de longe quanto de perto”, explica o médico. Alguns mencionam halos em torno das luzes e fotofobia (sensibilidade anormal à luz).

Tratamento

O tratamento se divide em três estágios: num primeiro instante com lentes corretivas (óculos); depois a opção por lentes de contato rígidas ou lentes de contato especiais e em último caso – quando a doença já atingiu um grau avançado – é feito o transplante de córnea que tem tido prognóstico satisfatório. O especialista ressalta que a intervenção cirúrgica não pode ser feita nas fases iniciais da doença: “O risco cirúrgico na fase inicial é maior”, afirma Edson Branzoni Leal.

Óculos, lente ou transplante? Essa escolha terapêutica vai depender da gravidade da condição de cada paciente. Levando em conta as medidas do cone e as condições da córnea, o ceratocone percorre uma escala que vai de I a IV. Para a turma do primeiro grupo, com cones de até 47 D (dioptrias), o mal é incipiente, também chamado frusto. Algumas vezes, nem aparecem problemas de visão. Geralmente, os candidatos às lentes estão no grupo com a doença entre os graus II, com cones de 47,25 a 50 D, e III, cujas medidas vão de 50,25 a 54 D. Para aqueles com protuberâncias com mais de 54,25 D, o transplante é a opção mais freqüente.

Inicialmente, os óculos corrigem satisfatoriamente a miopia e astigmatismo. Entretanto, à medida em que a doença progride, a visão não é mais adequadamente corrigida e requer o uso de lentes de contato rígidas para promover o aplanamento corneano e fornecer uma visão satisfatória. “Mais tarde, quando as lentes de contato não fornecem boa visão ou há intolerância ao uso das mesmas, indica-se o transplante de córnea”, explica o oftalmologista.

Se a indicação médica for o uso de lentes de contato, é muito importante fazer um acompanhamento nas primeiras semanas de utilização da lente para garantir o melhor formato e uma boa adaptação. “Para o usuário, o primeiro passo é aprender o manuseio do material: colocar, tirar, limpar. São visitas quase semanais ao profissional de oftalmologia. Depois, os encontros ficam semestrais e, em casos mais estabilizados, anuais”, explica Leal.

Se o ceratocone estiver em estágios iniciais, as lentes gelatinosas se apresentam como mais uma opção terapêutica. Por serem mais confortáveis, têm uma adaptação mais simples. Nessa categoria, existem ainda as lentes de dupla face, que são mais fechadas na região central e têm bordas mais planas.

A grande dificuldade enfrentada pelos oftalmologistas em relação ao transplante de córnea para tratamento de ceratocone consiste em encontrar doadores. “A técnica cirúrgica do transplante está consolidada e a captação do órgão também. Até seis horas após o óbito, a equipe médica pode retirar a córnea para o transplante. O problema é a doação, que é uma questão social e educacional no Brasil”, afirma Virgílio Centurion.

Segundo Leal, não é necessária a internação para a realização do transplante, mas o paciente passa por um rigoroso acompanhamento ambulatorial e os pontos são retirados em aproximadamente seis meses, após a cirurgia. “Estes pontos não prejudicam a visão do paciente e o resultado visual é muito melhor. Quanto à rejeição, sempre existe o risco, mas não é tão grande comparado a outros tipos de transplante”, ressalta o médico.

Após o período de acompanhamento ambulatorial, caso não haja nenhuma manifestação de rejeição, o paciente só necessitará do check-up oftalmológico anual – como qualquer outra pessoa. “Após o transplante, o ceratocone não volta a incomodar o paciente”, informa Leal.

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