O trauma ocular acontece no ambiente familiar, na atividade profissional e no lazer… Lápis no olho por colega de sala de aula, arranhão do gato, dedo no olho do irmão, ardência nos olhos por causa de desinfetante… Todas estas situações demonstram que pais, professores ou responsáveis devem estar atentos ao ambiente onde a criança vive, brinca e estuda, pois acidentes envolvendo os olhos são muito comuns.
“Entre os agentes causadores, as estatísticas são variáveis, porém podemos inferir que os objetos pontiagudos, as contusões e as substâncias cáusticas são as causas mais comuns, em crianças. A incidência em meninos com mais de cinco anos é duas vezes maior do que em meninas. Por isso, cuidado redobrado com eles”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
No ambiente doméstico, são mais comuns os traumas em crianças, provocados por objetos pontiagudos, substâncias químicas, brinquedos. Nas atividades de recreação, acometendo jovens, crianças e principalmente adolescentes, nas disputas nos esportes, no trânsito, no uso de fogos de artifício, também são freqüentes os traumas oculares.
Como resultado visual final, nos traumas oculares graves, cerca de 30% dos pacientes ficam sem sua visão útil, e isto corresponde, aproximadamente, a 10% de todo ferimento ocular, em crianças. “A profilaxia é o melhor tratamento para o traumatismo ocular. Educação e orientação são fundamentais. Informar a sociedade, controlar a indústria de brinquedos, obrigar o uso de óculos, capacetes, cintos de segurança e tomar outras medidas de proteção contribuem para prevenir os traumas oculares”, defende Centurion.
As Lesões Não Intencionais (LNI’s), popularmente conhecidas como acidentes, são identificadas pelo Ministério da Saúde como a primeira causa de morte de crianças e adolescentes entre 01 e 14 anos no Brasil. Todos os anos, uma média de seis mil menores, nessa faixa etária, morrem por acidentes de trânsito, afogamento, sufocação, queimaduras, quedas, dentre outros. O principal sintoma de alerta em caso de acidentes é a dor.
“Crianças que choram muito, sem parar, devem ter os olhos atentamente verificados pelos responsáveis. É importante comparar os dois olhos para tentar identificar alguma anormalidade”, diz Virgílio Centurion.
Como prestar socorro?
A primeira e mais importante medida de socorro, após um acidente ocular é a lavagem dos olhos com água limpa em abundância. “A única exceção se faz às perfurações oculares, que devem ser encaminhadas imediatamente ao pronto-socorro”, afirma a oftalmopediatra Maria José Carrari, que também integra o corpo clínico do IMO.
É importante evitar a compressão do globo ocular até a avaliação da extensão da lesão provocada pelo acidente. “Por isto, é recomendável levar a criança para ser avaliada pelo oftalmologista, que possui os equipamentos e os recursos necessários para um adequado exame do olho”, diz a médica.
Apenas o oftalmologista pode fazer uso de colírio anestésico para alívio da dor, após o exame do olho acometido pelo acidente. “Colírios e outros medicamentos nunca devem ser usados inadvertidamente, sem prescrição médica, uma vez que o abuso no emprego destas substâncias pode gerar problemas oculares mais graves do que os resultantes do próprio acidente, como, por exemplo, úlceras e perda acentuada da visão”, adverte Maria Carrari.
Prevenindo acidentes
“Muitos dos acidentes oculares em crianças são evitáveis. Para isso, pais, professores e responsáveis devem adotar alguns cuidados preventivos”, aconselha a oftalmologista. A seguir, a médica enumera algumas condutas que podem ser adotadas, visando a prevenção dos acidentes:
– Deixe sempre o cabo da panela virado para dentro, prevenindo, assim, queimaduras térmicas oculares por líquido escaldante da panela;
– Mantenha longe do alcance das crianças os produtos de limpeza. Evite guardá-los na parte debaixo de armários ou de pias. Os medicamentos e algumas substâncias como a soda cáustica e os agrotóxicos representam um risco ainda maior para as crianças. Outro produto bastante perigoso é o popular “chumbinho”, mistura clandestina que muitas pessoas usam para matar ratos;
– Não presenteie a criança com brinquedos pontiagudos, estilingues, facas ou tesouras com pontas. Esta medida visa diminuir o risco de perfuração ocular;
– Atenção com plantas venenosas e pontiagudas. Elas não devem estar ao alcance dos pequenos. Muitas plantas domésticas, principalmente as pontudas, as espinhosas, ou aquelas que soltam líquido leitoso podem causar irritação se atingirem os olhos;
– Cuidado com cigarros na boca dos adultos quando estes pegarem as crianças no colo, a proximidade, sem cautela, pode causar queimadura ocular;
– As fezes de alguns animais, principalmente a do gato e a de aves podem transmitir a toxoplasmose, doença que provoca inflamação no olho, podendo levar à cegueira. O contágio é feito através do contato: mão – fezes do animal – mão – boca. É muito importante ensinar às crianças a lavarem bem as mãos, assim que acabarem de brincar com os animais;
– As crianças também devem ser orientadas a tomar cuidado com “as aves que bicam”, “o gatinho que arranha” e “o cãozinho que morde”, pois estes animais podem, mesmo sem querer, ferir os olhos das crianças, enquanto estão brincando;
– Os germes, os produtos químicos e os poluentes podem causar problemas nos olhos das crianças que praticam natação ou outros esportes aquáticos. Assim, o uso de óculos apropriado é indicado, inclusive os óculos de natação com grau;
– As crianças devem ser orientadas a não coçar os olhos repetidamente, pois coçar os olhos com muita freqüência pode facilitar o aparecimento de infecções e desencadear doenças oculares como o ceratocone (córnea pontiaguda), a queda da pálpebra, o olho vermelho e o excesso de lacrimejamento;
– Na escola, os professores devem estar atentos, pois objetos como lápis e tesoura podem se transformar em “armas nas mãos dos pequenos”, ferindo os próprios olhos ou o dos companheiros;
– O uso do cinto de segurança é indispensável também dentro da cidade, onde se verifica a maioria dos acidentes com perfurações nos olhos. Crianças de até 12 anos de idade devem estar sempre no banco traseiro. Jamais levar criança, de qualquer idade, no colo, principalmente no banco da frente.