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A toxoplasmose é uma ameaça à visão?

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Apesar da associação imediata que muitos fazem entre a toxoplasmose e os gatos, os felinos não são os vilões desta história. A infecção causada pela doença também pode surgir devido a ingestão de alimentos mal lavados ou mal cozidos e pela ingestão de água mal tratada, entre outros fatores. Causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii, a doença, muitas vezes, pode não se manifestar em pessoas com a imunidade preservada. O protozoário da toxoplasmose é liberado quando os gatos infectados defecam na terra ou nas plantas. Apenas o contato com os gatos não transmite a doença e, sim, o contato com o solo por ele contaminado.

Em muitos casos, os sintomas da toxoplasmose podem não se manifestar ou serem confundidos com os de uma gripe e a pessoa nem fica sabendo que se infectou. O adoecimento da toxoplasmose na sua forma clássica com febre, ínguas, gânglios inchados pelo corpo dura umas ou duas semanas e acomete a minoria dos infectados, entre 10% – 20% dos casos. Portanto, entre 80% e 90% têm a infecção inaparente, silenciosa. No entanto, se a imunidade do paciente estiver realmente comprometida, como ocorre com os pacientes com AIDS, por exemplo, há um agravamento da toxoplasmose, a neurotoxoplasmose, que pode ser fatal, se não for diagnosticada e tratada adequada e precocemente.

“Outro indício importante da doença são as alterações visuais, que mostram que a toxoplasmose atingiu também os olhos. É a chamada toxoplasmose ocular”, explica o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do Instituto de Moléstias Oculares, IMO.

Quando a toxoplasmose causa lesões que comprometem a visão, os sinais também variam de acordo com a região atingida. A toxoplasmose pode provocar coriorretinite, uma inflamação no fundo do olho. Se o surto for leve, pode passar despercebido; se for intenso, a visão fica turva e diminuída. Caso a infecção pelo Toxoplasma atinja a mácula, pode causar a perda da visão central. Em geral, a coriorretinite se manifesta na adolescência ou no adulto jovem. “Os sintomas da toxoplasmose ocular dependem da localização da lesão na retina e da presença de inflamação”, explica o oftalmologista Edson Branzoni Leal, que também integra o corpo clínico do IMO.

As lesões na periferia da retina, geralmente não causam muita baixa de visão, a menos que haja uma inflamação ocular exacerbada, explica Leal. Muitas vezes, os pacientes iniciam o quadro com o relato de pontos pretos, manchas escuras móveis ou fixas que podem evoluir para uma diminuição importante da visão, se a doença não for tratada. “Assim como pode ocorrer com a toxoplasmose aguda (que acomete o corpo inteiro), a versão ocular chega até a passar desapercebida. Caso a lesão acometa áreas periféricas da retina, a doença pode se desenvolver de forma assintomática”, diz Leal.

É comum que o oftalmologista detecte uma lesão cicatrizada que o paciente não percebeu. Quando se manifestam, os sintomas mais freqüentes da toxoplasmose ocular são visão borrada, floaters (manchas na visão), dor e fotofobia (intolerância a luminosidade).

Doença x gatos

A toxoplasmose tem o nome popular de “doença do gato”, associação que acontece porque o animal é o hospedeiro do parasita, eliminando-o por meio de suas fezes. O gato habitualmente não adoece. Aparentemente está saudável, mas eliminando o protozoário pelas fezes durante um certo período. O gato é infectante apenas durante o período em que o ciclo do protozoário está se realizando. Depois, passa a ter apenas as formas residuais em seus músculos. O animal é considerado um transmissor importante da doença porque vive nos domicílios. Os gatos domésticos dificilmente possuem o protozoário da toxoplasmose, já que em geral, eles se alimentam de ração industrializada. Assim, o risco de um gato doméstico contrair o protozoário é muito pequeno.

“Mas, quando uma criança apresenta a doença, geralmente, perguntamos aos responsáveis se ela tem gato ou brinca em tanques de areia”, afirma a oftalmopediatra Maria José Carrari, que integra o corpo clínico do IMO.

Como esses animais defecam na areia, este ambiente pode propiciar o contato com as fezes, e, conseqüentemente, com o parasita. O perigo continua presente, mesmo após a higienização cuidadosa do local. “Por isto recomendamos que as gestantes não convivam com gatos. Durante os primeiros três meses de gestação, a doença pode provocar aborto ou levar a criança a nascer com toxoplasmose congênita, uma das formas mais graves da doença”, explica a médica. A toxoplasmose pode causar baixa visão ou até cegueira. “Os casos graves são aqueles em que existe uma destruição maciça do tecido ou quando a lesão atinge áreas nobres como a mácula ou nervo óptico”, explica Maria José Carrari.

“Isso acontece em pacientes que tiveram toxoplasmose congênita ou em pacientes imunocomprometidos, situação causada por doenças como AIDS, por exemplo”, explica.

Nos casos menos graves, a toxoplasmose ocular acomete placas menores, fora de regiões nobres. No entanto, seja qual for o quadro, é importante tratar. “A lesão sempre começa pela retina. Se não tratada, a tendência é aumentar”, adverte a médica. O tratamento é feito com drogas anti-parasitárias específicas e drogas anti-inflamatórias via oral. Quando há acometimento da úvea anterior podem ser usados corticoides tópicos. O objetivo do uso da medicação é evitar a progressão da cicatriz e cuidar do processo inflamatório.

O tratamento deve ser mantido durante algumas semanas, nunca menos do que três. A recuperação é completa. A resolução dos gânglios aumentados é um pouco lenta de maneira que a pessoa ainda pode apresentar gânglios menores do que estavam na fase aguda, embora maiores do que o normal, mas aos poucos o quadro irá se recompondo. Segundo o oftalmologista Edson  Branzoni Leal, “em casos mais graves, em que o vítreo fica muito opaco, é necessário realizar uma cirurgia, a chamada vitrectomia, para sua remoção”.

É possível prevenir?

É possível prevenir o aparecimento da toxoplasmose. “A infecção humana pode ocorrer através da ingestão de oocistos do protozoário – eliminados pelos gatos -, de carne suína, ovina e caprina que contenham cistos de toxoplasmose, ingestão de alimentos crus ou mal lavados e pela ingestão de água contaminada”, alerta a oftalmologista Maria José Carrari.

“Sugerimos redobrar os cuidados de higiene, como lavar as mãos após o manuseio de carne crua ou mal cozida. Se possível, evitar a ingestão desse tipo de alimento. Ovos crus e leites não pasteurizados também podem ser fontes de infecção, portanto, seu consumo deve ser evitado. Além disso, deve-se procurar um oftalmologista sempre que houver suspeita de alguma alteração na visão”, afirma a médica.

Toxoplasmose e gravidez

A realização do exame de toxoplasmose faz parte de um conjunto de exames rotineiros de assistência pré-natal. Resultado negativo indicando que a mulher nunca teve contato com o parasita reflete uma situação de potencial preocupação, porque se ela se infectar durante a gravidez poderá transmitir o parasita para o bebê e a criança nascerá infectada. Nesse caso, é de fundamental importância recomendar que a mulher não vá a lugares frequentados por gatos e não coma carne crua, mal cozida ou mal passada para evitar que adquira a infecção durante a gravidez.

Já o resultado for positivo, indicando toxoplasmose antiga e curada traz tranquilidade, pois a mulher está protegida contra a doença e não vai adquiri-la outra vez. As grávidas devem ter um cuidado especial com a prevenção da doença. Como algumas vezes, a toxoplasmose não se manifesta, a mulher pode não perceber que foi infectada e transmitir a doença ao feto.

“A enfermidade é diagnosticada por meio de exames de sangue. Ao tratarmos da mãe, tratamos também o feto, o que diminui muito as chances da criança nascer com toxoplasmose”, diz a médica.

Os problemas que a toxoplasmose pode causar ao bebê variam de acordo com o trimestre da gravidez em que ocorre a infecção materna. No primeiro trimestre, se a mãe está com a doença ativa e há a transmissão para o bebê, os perigos são maiores. “A criança pode ter encefalite e nascer com as sequelas da doença, ou apresentar lesões oculares cicatriciais e prejuízo importante da visão, dentre outras conseqüências”, informa Maria José Carrari.

É bem verdade que, nesta fase, não é incomum o abortamento espontâneo tal o tamanho dos danos que o parasita provoca no feto. De qualquer maneira, nesse período, a probabilidade de transmissão para o embrião é menor, não ultrapassa a 10%, 20% dos casos. Já no segundo trimestre, a transmissão ocorre em 1/3 das gestações em que a mãe apresenta a doença ativa, mas o feto consegue conviver razoavelmente com as agressões do parasita que serão mais atenuadas, embora possam ocorrer nascimentos com pequeno retardo mental e problemas oculares, por exemplo. No terceiro trimestre, a transmissão da mãe para o feto é muito comum, mas a doença se mostra menos problemática para o recém-nascido.

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