O início do ano letivo é uma ótima oportunidade para realizar um check-up oftalmológico nas crianças. Já na primeira infância é possível perceber a presença de vícios de refração, como miopia, hipermetropia e astigmatismo, que são comuns e devem ser corrigidos com uso de óculos ou lentes de contato. O estrabismo também é frequente nesta faixa etária, além das conjuntivites infecciosas e alérgicas.
“Apesar de já saberem expressar o que sentem, crianças nesta faixa etária, muitas vezes, não sabem que enxergam mal. Algumas delas só percebem o problema quando são alfabetizadas: ou porque não vêem a lousa direito ou porque sentem dores de cabeça ao estudar. Antes disso, a criança pode achar que enxergar embaçado ou que não ver o que está mais longe é normal”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do Instituto de Moléstias Oculares, IMO.
Os pais devem prestar atenção a sinais de problemas que, geralmente, aparecem antes da alfabetização. “Não se deve subestimar a queixa da criança. Se ela é portadora de rinite alérgica, provavelmente apresentará comprometimento do globo ocular, com pálpebras inchadas, coceira e lacrimejamento. Se a criança tropeça e cai muito ou apresenta posição viciosa de cabeça para assistir TV, estes podem ser sinais de estrabismo”, afirma a oftalmopediatra do IMO, Maria José Carrari.
Sinais de problemas
Na sala de aula ou durante o horário do recreio, os professores também podem observar sinais de que os alunos apresentam algum problema de visão e devem passar por uma consulta oftalmológica. Veja, a seguir, a lista de sinais mais comuns de que a criança pode apresentar algum problema de visão:
1) Estudantes com alguma deficiência visual costumam apertar ou esfregar os olhos com freqüência, vivem com os olhos irritados, avermelhados ou lacrimejantes, piscam muito ou franzem a testa para olhar à distância;
2) Estas crianças podem também se queixar de tonturas, náuseas, dor de cabeça ou sensibilidade excessiva à luz;
3) Crianças míopes não enxergam bem de longe e, por isso, podem evitar atividades esportivas que exijam esta habilidade;
4) Os astigmáticos, por enxergar os objetos embaçados, podem ficar dispersivos, indisciplinados ou com aversão à leitura. Para escrever ou ler, às vezes, aproximam-se demais do caderno ou do livro;
5) Crianças que andam com cuidado excessivo, esbarraram ou tropeçam com facilidade também podem apresentar algum tipo de deficiência visual.
Vícios de refração
Ao iniciar a vida escolar é preciso que pais e professores fiquem atentos aos problemas de visão na criança, pois o processo de ensino-aprendizagem depende primordialmente da visão. “Na verdade, o ideal é fazer um exame oftalmológico completo, dando ênfase ao diagnóstico de vícios de refração – miopia, hipermetropia e astigmatismo – todo início de ano letivo”, defende Maria Carrari.
Miopia, hipermetropia e astigmatismo são hereditários e podem se manifestar desde a primeira infância. O diagnóstico destas alterações pode ser feito durante consulta de rotina, mas os pais devem ficar atentos para olhos vermelhos, lacrimejamento, coceira e dor de cabeça, grandes indicadores da hipermetropia e do astigmatismo – a criança com baixo rendimento escolar pode ser portadora de miopia. Todos os casos podem ser corrigidos com o uso de óculos.
“A criança com problema visual não diagnosticado e não tratado poderá apresentar dificuldade de aprendizado e se sentir desestimulada para estudar. Crianças míopes tenderão a se isolar das brincadeiras, pois não enxergam para longe com nitidez, enquanto que as hipermétropes e astigmatas se afastarão das atividades para perto, como ler e pintar, pois isso lhes traz desconforto”, explica a Maria Carrari.
O estrabismo
O exame de motilidade ocular também é muito importante e deve ser realizado na primeira infância, pois detecta o potencial de mobilidade da musculatura do olho: se existe limitação à movimentação, incoordenação; dessincromia ocasionando visão dupla, dores de cabeça ou ainda a presença de doenças oculares, endócrinas ou cerebrais.
“A avaliação da motilidade ocular é realizada através do oclusor manual ou do reflexo luminoso corneal, solicitando que o paciente fixe o olhar num ponto. Assim pode ser verificado o desvio dos olhos para perto ou para longe. Por meio deste exame, o oftalmologista pode diagnosticar o estrabismo”, explica a médica.
Frequente durante os primeiros anos de vida, o estrabismo deve ser corrigido o quanto antes para que a criança desenvolva sua capacidade visual de forma adequada em ambos os olhos, evitando a ambliopia (olho preguiçoso). “A correção do estrabismo pode ser feita com uso de óculos associado a exercícios ou uso de tampão no olho melhor, para estimular o ‘olho com preguiça’. Há casos em que a correção cirúrgica do olho desviado é indicada”, explica a Maria Carrari.
É também na fase escolar que deve ser iniciada a realização do exame de fundo de olho, região que fica entre o cristalino e a retina. “O procedimento pode identificar doenças sérias como tumores e problemas vasculares. Qualquer alteração nessa área pode apontar um desequilíbrio no corpo. Para observá-la é usada uma lente especial, que aumenta a imagem diversas vezes. O exame completo só pode ser feito com a pupila dilatada”, informa a oftalmologista.
Analisando os vasos sanguíneos do fundo do olho, o oftalmologista pode detectar problemas de pressão. O exame pode ainda identificar diabetes, leucemia, inflamações reumáticas, tuberculose, toxoplasmose e desequilíbrios da tiróide. “O exame de fundo do olho não se caracteriza como um exame preventivo, pois quando um sintoma aparece no olho, com certeza já existe uma doença instalada no organismo. Sua função principal é ajudar no diagnóstico de doenças que, às vezes, não foram percebidas pelo paciente nem por outros médicos”, diz a oftalmopediatra.
Corrigindo os problemas
A criança pode usar óculos para melhorar a sua acuidade visual, aliviar os sintomas oculares e para corrigir certos tipos de estrabismo. Os óculos com grau para as crianças só podem ser receitados pelo oftalmologista e recomenda-se que sejam conferidos após serem feitos. “As armações devem ser, de preferência, de acrílico, por serem mais resistentes. Devem, também, estar bem adaptadas ao rosto da criança, não podem estar soltas ou apertar o nariz ou atrás das orelhas. As hastes que se prendem atrás das orelhas são melhores para as crianças”, informa a médica. Se a criança e a família optarem pelo uso das lentes de contato, “ a adaptação deve ocorrer com a supervisão do oftalmologista”, completa.