A Oftalmopatia de Graves é uma doença autoimune crônica que afeta os tecidos retrobulbares dos olhos – músculos extraoculares e tecidos conectivos orbitais – e tem relação com as doenças autoimunes da tiroide. Muitos estudiosos preferem designá-la de oftalmopatia associada à tiroide. Isso porque a maioria desses casos está associada ao hipertiroidismo decorrente de um bócio difuso tóxico (90%), levando a um quadro de sudorese, emagrecimento, taquicardia, dentre outros sintomas. Existem, entretanto, casos de oftalmopatia associados ao hipotiroidismo (3%) ou mesmo o aparecimento em pacientes em eutiroidismo (7%).
“Nos casos de Oftalmopatia de Graves existe um aumento da gordura e dos músculos orbitários, dando ao globo ocular um volume maior que o normal. O globo ocular se situa dentro de uma cavidade óssea, sem nenhuma elasticidade. Os sintomas da doença se devem a esta desproporção entre o novo volume ocular e a cavidade orbitária. Desta forma, a principal conseqüência é a protusão do globo ocular para fora da órbita para aliviar a compressão, dando ao paciente um aspecto de olhos arregalados, como se estivesse constantemente assustado”, explica o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
A National Graves’ Disease Foundation, dos Estados Unidos, estima que há 13 milhões de pessoas no mundo sofrendo com disfunções da tireoide. A Oftalmopatia de Graves é mais frequente em mulheres na faixa de 30 a 50 anos, podendo também acometer homens, na faixa de 40 a 60 anos, neste grupo, a doença apresenta-se frequentemente mais grave. Geralmente acomete os dois olhos, mas pode ser unilateral. Existe também uma nítida relação do tabagismo com o aparecimento da Oftalmopatia de Graves e com o grau de severidade da doença.
Sintomas da doença
Os sintomas e sinais da doença são diversos. Os pacientes podem se queixar de alguns ou de vários dos seguintes sintomas: dor ou pressão no fundo dos olhos, dificuldades de olhar para a luz, lacrimejamento, coceira, sensação de areia nos olhos, visão dupla, dificuldade de olhar para cima.
Além dos olhos protusos podem ser observados nos pacientes vários outros sinais: pálpebras inchadas, olhos vermelhos, aumento das bolsas de gordura, retração das pálpebras – estas parecem menores, não acompanham o movimento dos olhos para baixo e não cobrem totalmente os olhos quando estes se encontram fechados, podendo levar ao aparecimento de úlceras na córnea (e cegueira) devido à insuficiência da cobertura pela lágrima. A compressão dos tecidos oculares leva à compressão também do nervo ótico, podendo causar alteração na acuidade visual, na capacidade de visão a cores e, por fim, cegueira.
Para diagnosticar e tratar
O diagnóstico da Oftalmopatia de Graves é principalmente clínico, mas alguns exames auxiliam o diagnóstico mais precoce e mais acurado, como o estudo do campo visual, o exame do fundo do olho, a aferição da pressão ocular, uma ultra-sonografia, uma exoftalmometria, uma tomografia computadorizada, e, ainda, uma ressonância nuclear magnética. Os exames fornecem o suporte para que o oftalmologista decida pelo procedimento terapêutico mais indicado para cada paciente.
Deformidades visíveis, particularmente envolvendo a face, têm sempre induzido aversão social. Os pacientes que apresentam a Oftalmopatia de Graves, geralmente, sofrem com a intromissão não desejada, tais como olhares fixos ou comentários. A pressão social para corresponder a uma aparência idealizada é a raiz da angústia dos pacientes. A obsessão pela aparência desvaloriza aqueles que não preenchem o ideal concebido e estigmatiza aqueles com deformidades visíveis. A diminuição da capacidade visual também tem grande impacto na capacidade funcional diária e no bem-estar destes pacientes.
Muitas vezes, além dos sintomas físicos da Oftalmopatia de Graves, também estão presentes nos pacientes sintomas psicológicos, como depressão, ansiedade e estresse relacionados a atividades sociais e de trabalho. Por isto, para o tratamento da moléstia, muitas vezes, é necessária a formação de uma equipe multidisciplinar composta por um oftalmologista, um endocrinologista, um radiologista e, eventualmente, um cirurgião plástico e um psicoterapeuta. O objetivo do tratamento para a maioria dos pacientes é obter uma vida mais efetiva, preservando sua capacidade funcional visual e o seu bem-estar.
Na grande maioria dos casos, há melhora e regressão da doença apenas com o tratamento do hipertireoidismo. Em casos mais graves podem ser necessários outros procedimentos como o emprego de corticoides, radioterapia, cirurgia para descompressão, cirurgia para retirada das bolsas de gordura ou ainda o uso de imunossupressores. Durante todo o tratamento é fundamental a proteção ocular com óculos escuros, pomadas oftálmicas, colírios e oclusão do olho afetado durante a noite. A descompressão orbitária está indicada nos casos de neuropatia óptica compressiva, nos glaucomas refratários ao tratamento clínico e em casos de exposição corneana.
Na fase inflamatória da doença predominam os sintomas e os sinais como a dor, a hiperemia conjuntival e palpebral, além do edema palpebral, a quemose da conjuntiva e a ceratite. Nessa situação devemos aplicar todos os esforços a fim de diminuir a inflamação sobre os tecidos orbitários e com isso minimizar as seqüelas da crise, com a administração de anti-inflamatórios e até de imunodepressores.
O tratamento anti-inflamatório, instituído precocemente, pode inativar o processo e prevenir a progressão da doença com melhores resultados finais; já na fase crônica, esta terapêutica não tem indicação. O tratamento da fase não-inflamatória é mais difícil, uma vez que o uso de anti-inflamatórios provoca pouca ou nenhuma melhora sobre o quadro orbitário.