As quedas e suas consequências para as pessoas idosas no Brasil têm assumido dimensão de epidemia, segundo anúncio do Ministério da Saúde. Evitar a queda é considerado uma conduta de boa prática geriátrico-gerontológica, tanto em casa, quanto em hospitais, em instituições de longa permanência, sendo, para estes dois últimos um dos indicadores de qualidade no atendimento prestado a idosos. “Além disso, evitar que o idoso caia constitui-se numa política pública indispensável, não só porque o evento afeta de maneira desastrosa a vida dos idosos e de suas famílias, como também requer expressivos recursos econômicos no tratamento de suas consequências”, defende o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Para o sistema de saúde, os custos são realmente altos. A cada ano, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem gastos crescentes com tratamentos de fraturas em pessoas idosas. Em 2006, foram R$ 49.884.326 com internações de idosos por fratura de fêmur e R$ 20 milhões com medicamentos para tratamento da osteoporose. As capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo são as que mais tiveram internações de idosos por fratura de fêmur em 2006. Em São Paulo, segundo o Ministério, foram 2.388 e no Rio de Janeiro, 1.178.
Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, as quedas são a primeira causa de acidentes com pessoas acima de 60 anos. Cerca de 5% das quedas levam à fraturas. As mulheres sofrem mais fraturas que os homens, entretanto, a mortalidade devido às fraturas é maior entre eles. O levantamento divulgado, recentemente, pelo Ministério da Saúde revelou um histórico das internações por fratura de fêmur em idosos de 2001 a 2006. A quantidade de internações aumenta a cada ano e as mulheres são as mais atingidas. Entre as mulheres foram 20 mil internações em 2006 e entre eles 10 mil. Em 2001, esses números eram bem menores, 15 mil internações do sexo feminino e 7 mil do sexo masculino. Considerando todo o país, somente em 2005, foram 3.664 óbitos por quedas.
Causas das quedas
Em muitos casos, o idoso tende a sub-relatar quedas aos médicos que o assistem, muitos creditam à idade seus problemas de equilíbrio e marcha, fazendo com que estas dificuldades de mobilidade não sejam detectadas, até que uma queda com uma conseqüência grave ocorra. “O risco de cair, realmente, aumenta significativamente com o avançar da idade, o que coloca esta síndrome geriátrica como um dos grandes problemas de saúde pública, devido ao aumento da expectativa de vida da população no Brasil”, afirma Centurion.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria, as pessoas caem por diversas razões que englobam doenças agudas como isquemia cerebral, doenças cardíacas que diminuem a pressão arterial, ou ainda por conseqüências naturais do envelhecimento que podem ser tratadas, tais como:
- Perda de visão devido à inadequação das lentes corretivas;
- Vertigens e desequilíbrio por alterações do labirinto;
- Arritmia cardíaca;
- Osteoporose;
- Alteração da visão em profundidade, espessura e altura devido à catarata;
- Perda da audição;
- Anemias;
- Pés com alteração nas unhas, micoses, joanetes, calos;
- Prostatismo, que leva a um esforço para urinar e provoca desmaio;
- Artroses no pescoço que podem causar desequilíbrio;
- Hipotensão postural que é a queda da pressão arterial quando a pessoa muda de posição, de deitado para sentado ou de sentado para em pé;
- Fraqueza causada por desnutrição;
- Uso de bengalas, andadores e cadeiras de rodas;
- Doenças como Parkinson, pneumonias, infecções urinárias, infartos do miocárdio e hemorragias.
O uso de medicamentos também é causa muito comum de quedas nas pessoas com mais de 60 anos. Os idosos tendem a apresentar varias doenças crônicas concomitantes e por isto usam vários remédios ao mesmo tempo, o que pode aumentar o risco de quedas. “Os idosos que caem, provavelmente, o fazem por mais de uma razão e com freqüência é possível tratar estas causas e com isto evitar as quedas. Por isto é importante procurar auxilio médico e não usar remédios sem a prescrição do especialista”, recomenda Virgilio Centurion.
Com a visão em dia
O declínio da acuidade visual é uma das causas mais significativas das quedas em idosos. Com o envelhecimento, o tamanho e a resposta das pupilas diminuem. “Ao entrar em um recinto escuro ou sair à noite, o indivíduo idoso tem o risco de queda aumentado, pois o tempo necessário para que o olho senescente atinja um nível de sensibilidade à luz igual ao de uma pessoa jovem é maior. Por conseqüência, indivíduos mais velhos precisam de iluminação adequada para andar com segurança”, informa o oftalmologista Juan Caballero, que também integra o corpo clínico do IMO. Com o envelhecimento, também pode haver um declínio na percepção da profundidade. A alteração da percepção de profundidade pode levar às quedas associadas com subir e descer escadas.
No processo natural de envelhecimento, a visão, a partir dos 60 anos passa a apresentar sinais de deterioração. “Para incentivar a prevenção das quedas dos idosos, os exames oftalmológicos devem ter lugar de destaque na agenda do idoso”, defende Caballero. Além dos periódicos exames de refração (que diagnosticam miopia, hipermetropia e astigmatismo), o exame de motilidade ocular também é muito importante, pois detecta o potencial de mobilidade da musculatura do olho, revelando se existe alguma limitação à movimentação, incoordenação; dessincromia ocasionando visão dupla, dores de cabeça ou ainda a presença de doenças oculares, endócrinas ou cerebrais.
“Quando a idade avança é necessário também a realização do exame de fundo de olho por meio do mapeamento da retina. Este exame visa o estudo de toda a retina, em particular da região periférica, que não pode ser observada pela oftalmoscopia convencional. É muito útil no diagnóstico e caracterização do descolamento de retina, da retinopatia diabética, das uveítes e de diversas retinopatias”, informa o oftalmologista Juan Caballero.
Outro exame preventivo importante é a biomicroscopia do segmento anterior. “Esta avaliação é fundamental para a detecção precoce da presença, localização, extensão das opacidades cristalinianas, para a revelação de possíveis fragilidades de zônula e/ou ectopia ou luxação do cristalino, sinais de inflamação intraocular e ainda para a avaliação da higidez da córnea, íris e ângulo da câmara anterior do olho”, reforça o médico.
A tonometria é também apontada como um exame essencial, pois é capaz de rastrear o aparecimento do glaucoma. “Ao medir a pressão ocular, por meio do tonômetro, o oftalmologista pode detectar a presença de hipertensão ocular, que pode ou não ser diagnosticado como glaucoma, de acordo com a alteração ou não do campo visual e da papila óptica”, diz Caballero.