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Queimaduras oculares: uma urgência na Oftalmologia

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A literatura médica tem demonstrado que dentre os agentes químicos causadores de queimaduras oculares, as substâncias alcalinas ou ácidas são as mais frequentes responsáveis por graves sequelas à saúde ocular.  Grande parte dos incidentes que provocam queimaduras acontecem por negligência, ou seja, poderiam ser evitados se os devidos cuidados forem adotados. Tanto é assim que a primeira causa deste tipo de fatalidade é associada aos líquidos superaquecidos E basta um pequeno descuido e pronto: a substância perigosa atinge diretamente nos olhos. As queimaduras químicas oculares são causas frequentes de danos à saúde ocular e devem ser consideradas emergências oftalmológicas devido à sua alta morbidade. Acometem frequentemente os dois olhos e são causa de 7 a 10% dos casos relatados de traumas oculares. A maioria das vítimas é do sexo masculino, jovem e observa-se alta incidência nas listas de acidentes de trabalho.

“A gravidade da lesão ocular causada pela queimadura depende da concentração do agente agressor, da duração da exposição do globo ocular ao agente, do pH da solução e da velocidade de penetração da droga”, informa o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.

Enquanto as queimaduras por agentes térmicos são provocadas por fogos de artifício, água fervente ou metal em altas temperaturas (principalmente alumínio incandescente), as queimaduras químicas são as mais urgentes e geralmente são causadas por álcalis ou ácidos. As queimaduras álcalis mais comuns incluem o hidróxido de amônia (soda cáustica) e o hidróxido de cálcio (cimento). “Estes componentes são particularmente perigosos, em razão de suas peculiaridades químicas, pois possuem propriedades hidrofílicas e lipofílicas, permitindo rápida penetração na membrana celular e na câmara anterior do olho, em razão dos danos resultantes da interação dos íons hidroxila com a membrana celular, levando à saponificação dos tecidos e à morte celular”, explica Centurion.

Os ácidos mais comumente associados às queimaduras são o ácido sulfúrico (bateria de carros), o ácido sulfuroso (clarificantes) e o ácido hidroclorídrico (limpadores de piscina). “Estes agressores causam danos intra-oculares menores, pois a precipitação das proteínas (coagulação) atua como barreira mecânica para a penetração da substância agressora”, informa o médico.

Outras formas de queimaduras que devem ser tratadas como queimaduras químicas são aquelas provocadas por gás lacrimogêneo. Geralmente, considera-se que este produto químico não cause lesão ocular permanente; contudo, há relatos de perda permanente da visão após este tipo de queimadura. As lesões oculares por fogos de artifício e foguetes de sinalização contendo hidróxido de magnésio também devem ser tratadas como queimaduras químicas e não-térmicas.

Tratamento das queimaduras oculares

“Após o incidente que provocou a queimadura, é essencial avaliar e classificar a extensão da lesão do tecido ocular, para tratá-lo adequadamente, esta medida influencia diretamente no prognóstico do resultado visual final”, alerta o oftalmologista Eduardo de Lucca, que também integra o corpo clínico do IMO.

O tratamento imediato das queimaduras químicas consiste na irrigação abundante do olho, usando a fonte de água que estiver mais disponível (chuveiro, torneira, bebedouro, mangueira ou banheira). “Quanto maior o intervalo de tempo entre o acidente e a irrigação com água, pior o prognóstico. A vítima não deve esperar por soro fisiológico estéril ou soluções neutralizantes”, informa o oftalmologista Eduardo de Lucca.

Segundo o médico, as pálpebras devem ser afastadas, irrigando-se o(s) globo(s) ocular(es) continuamente com água. A lavagem inicial no local do acidente deve ser feita por vários minutos para proporcionar uma irrigação abundante de ambos os olhos. “Geralmente, o acidentado tende a fechar os olhos e isto pode dificultar a lavagem. O uso de um pano ajudará a pessoa que está prestando socorro a manter abertas as pálpebras da vítima, que podem se apresentar espásticas e escorregadiças”, aconselha Eduardo de Lucca.

Após a lavagem inicial, a pessoa que sofreu a queimadura deve ser levada imediatamente para um pronto-socorro, onde a lavagem será mantida com, pelo menos, 2.000ml de solução fisiológica durante um período mínimo de 1 hora. “Se necessário devem ser usados retratores de pálpebra, instilando-se anestésico tópico a cada 20 minutos para aliviar a dor”, afirma Eduardo de Lucca.

O oftalmologista deverá tentar remover qualquer corpo estranho que possa ter ficado retido no momento do ferimento. Se a eversão das pálpebras superiores ou inferiores revelar a presença ainda de restos do produto químico agressor nos tecidos, deve-se usar uma solução de ácido etilenodiaminotetracético (EDTA). Deve-se evitar a compressão direta do globo ocular durante a lavagem se houver qualquer suspeita de lesão do globo ocular “Terminada a lavagem, deve ser realizado um exame meticuloso à procura de lesões oculares perfurantes”, informa Eduardo de Lucca.

A irrigação – lavagem dos olhos – deve ser mantida até que o papel medidor de pH revele que as leituras conjuntivais estejam próximas do normal (pH entre 7,3 e 7,7). “Uma vez alcançado um pH relativamente normal, o paciente deve ser examinado novamente para verificar se o pH não está mudando outra vez em direção à acidez ou à alcalinidade, de acordo com a natureza da queimadura”, explica o médico. Enquanto o pH está sendo estabilizado, os colírios midriáticos-cicloplégicos (ciclopentolato a 1,0% ou escopolamina a 0,25% e fenilefrina a 2,5%) podem ser instalados para dilatar a pupila, evitar aderências maciças da íris ao cristalino e também para reduzir a dor do paciente. Analgésicos também podem ser administrados por via oral ou endovenosa”, diz o oftalmologista.

Após completar a lavagem, antibióticos, tais como pomadas de polimixina-bacitracina, gentamicina ou tobramicina podem ser indicados para proteger o paciente de infecções. “O exame físico completo de emergência deve ser feito não apenas pelo oftalmologista, mas também por um otorrinolaringologista e por um clínico geral, pois muitas substâncias químicas tóxicas são aspiradas ou engolidas no momento do acidente, podendo existir queimaduras químicas concomitantes no trato respiratório, na boca ou no esôfago”, informa Eduardo de Lucca.

Uma vez controlada a situação de emergência imediata, o olho queimado é tampado e o paciente recebe acompanhamento ambulatorial ou pode, ainda, ser internado se a queimadura for muito grave.

Em caso de queimaduras, não é recomendável:

  • Passar borra de café, creme dental e mesmo pomadas (pois são oleosas e não se misturam às secreções) – aliás, até agravam o quadro;

  • Deixar de buscar ajuda profissional em lesões graves, pois elas podem infeccionar;

  • Colocar gelo.

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