Tecnologia para detectar sinais precoces de glaucoma

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O uso da tecnologia, um aplicativo de rastreamento do glaucoma, instalado num tablet, pode ser um método eficaz para reduzir a incidência da cegueira evitável em populações de alto risco, com acesso limitado aos cuidados de saúde. A informação é de um estudo – Use of an iPad to Perform Visual Field Screening in Nepal (PO412) – divulgado durante a reunião anual da Academia Americana de Oftalmologia, que aconteceu em outubro, em Chicago, nos EUA.

Para realizar o estudo, pesquisadores americanos (Universidade de Iowa, Universidade de Maryland, Universidade Johns Hopkins, Universidade de Michigan) e pesquisadores nepaleses (Instituto de Olhos de Tilganga) utilizaram um aplicativo de avaliação da visão periférica para diagnosticar cerca de 200 pacientes, no Nepal, com glaucoma, usando um iPad®.

“Os resultados mostram que a triagem feita rapidamente é eficaz para as populações que têm pouco ou nenhum acesso aos cuidados tradicionais com a visão e certos grupos étnicos que têm um alto risco de desenvolver a doença”, revela o oftalmologista Virgílio Centurion (CRM-SP 13.454), diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.

O glaucoma é a segunda principal causa de cegueira no mundo, afetando mais de 60,5 milhões de pessoas. Até 2020 é provável que a cifra aumente para 80 milhões. No grupo de 50 a 59 anos, a incidência é de 2,1%, e ascende a 2,3% nas pessoas de 60 a 69 anos e depois dos 70 anos, a 3,4%.

“Os grupos de risco, além das pessoas com mais de 40 anos, são aqueles com antecedentes familiares de glaucoma, hipertensão arterial ou pressão intraocular elevada, as pessoas de etnia negra ou asiática, as diabéticas e as com miopia elevada”, informa a oftalmologista Márcia Lucia Marques (CRM-SP 110.583), especialista em glaucoma, que também integra o corpo clínico do IMO.

A doença pode ser tratada de forma eficaz, no entanto, ela geralmente não apresenta sintomas em seus estágios iniciais, o que resulta em muitos pacientes sem consciência de que sofrem com a condição até que ela progrida para fases posteriores.

“O diagnóstico precoce do glaucoma pode ser feito em um exame oftalmológico de rotina. Embora seja relativamente fácil para os pacientes com acesso aos cuidados de saúde regulares, em nações desenvolvidas, serem diagnosticados com glaucoma, durante um exame oftalmológico de rotina, as comunidades remotas e carentes têm pouco ou nenhum acesso a esses serviços, aumentando o risco de cegueira relacionada com glaucoma”, defende a médica.

Como a tecnologia pode ajudar?

A fim de determinar se um teste de rastreio, utilizando a tecnologia móvel, poderia ser efetivamente realizado em comunidades fora do ambiente clínico tradicional, a equipe de pesquisadores empregou o aplicativo Visual Fields Easy, que simula um teste de campo visual, em um iPad®, visando examinar  mais de  400 olhos em busca de diagnosticar o glaucoma.

Aproximadamente metade dos olhos pesquisados estava saudável e a outra metade apresentava glaucoma. Então, os pesquisadores compararam os resultados da triagem feita por meio do tablet com os testes de campo visual padrão da indústria tradicional e descobriram que os dois testes apresentavam os mesmos resultados entre 51-79% do tempo. Os rastreios via tablet duravam, em média, 3 minutos e 18 segundos, menos de metade do tempo médio necessário para o teste padrão.

A melhor concordância entre os testes foi em pacientes com perda de campo visual moderada e avançada, houve menos concordância em pacientes com leve perda de campo visual. Os pesquisadores acreditam que isso se deve a uma alta taxa de falsos positivos de controles normais.

Enquanto a taxa de concordância e de custo-benefício dos resultados não forem fortes o suficiente para indicar o emprego do diagnóstico via tablet para a triagem de populações em geral, os pesquisadores acreditam que a realização de rastreios usando o iPad® pode ser uma ferramenta eficaz para a triagem inicial dos grupos de alto risco, tais como pessoas de ascendência africana ou hispânica, idosos e pessoas com acesso limitado ou nenhum acesso aos cuidados básicos de saúde ocular.

“Hoje, os equipamentos de teste de campo visual, empregados no diagnóstico do glaucoma, não são portáteis, nem acessíveis a algumas populações ao redor do mundo, impedindo que regiões inteiras tenham acesso aos cuidados de saúde ocular. Apesar de não ser perfeito, o método de triagem do glaucoma, via tablet, pode fazer uma diferença significativa em locais remotos, onde as populações, de outra forma, não receberiam triagem alguma”, defende a oftalmologista Márcia Marques.

Centurion acrescenta que no Brasil, há um aplicativo – Teste de Risco de Glaucoma –que auxilia na educação dos pacientes sobre a doença. “Diferentemente do teste de triagem do estudo, o teste brasileiro não tem caráter diagnóstico, destina-se apenas à conscientização da população sobre os fatores de risco para a doença. O teste foi  adaptado pela ABRAG, Associação Brasileira dos Amigos, Familiares e Portadores de Glaucoma, do site Glaucoma Foundation. Assim como em muitas outras áreas da Medicina, a Oftalmologia e os pacientes se beneficiam cada vez mais dos recursos tecnológicos que dispomos hoje”, diz o médico.

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