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Alfa-bloqueadores podem comprometer a cirurgia de catarata

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A Sociedade Americana de Catarata e Cirurgia Refrativa (ASCRS) e a Academia Americana de Oftalmologia (AAO) emitiram uma atualização educacional sobre as complicações da cirurgia de catarata associadas ao uso de alfa-bloqueadores sistêmicos, com base em dois novos estudos publicados em revistas médicas oftalmológicas.

A cirurgia de catarata é uma das cirurgias mais comuns nos Estados Unidos, com mais de 3 milhões de procedimentos realizados anualmente. Alfa-bloqueadores, que relaxam a musculatura lisa da próstata e da parede da bexiga, são os medicamentos mais prescritos para os sintomas da hiperplasia prostática benigna (HPB).

Como essas drogas também inibem e desativam o músculo dilatador da íris, os alfa-bloqueadores comumente provocam complicações na cirurgia de catarata, causando súbitos prolapsos da íris intra-operativa e constrição da pupila, o que é denominado como a Síndrome de Íris Flácida Intra-operatória (IFI).

A Síndrome de Íris Flácida Intra-operatória está associada a um maior risco cirúrgico, que pode incluir complicações e danos significativos à visão. Um dos maiores estudos até agora sobre o tema descobriu que 75% dos doentes que tomam tansulosina – alfa-bloqueador mais prescrito para BPH – e tiveram que se submeter a uma cirurgia de catarata tiveram a IFI, entre moderada e grave.

A tansulosina é seletiva para o receptor alfa-1A, que predomina tanto na dilatação da íris quanto no músculo prostático. Alfa-antagonistas não seletivos também bloqueiam o receptor alfa – 1B, encontrado no músculo vascular. Todos os alfa-bloqueadores podem prejudicar a dilatação da pupila e causar IFI. No entanto, a preponderância de provas indica que a tamsulosina é mais susceptível de causar IFIs graves do que os bloqueadores não seletivos, tais como a terazosina, doxazosina e a alfuzosina.

“Um novo estudo, publicado na edição de abril da Ophthalmology, revista da Academia Americana de Oftalmologia, comparou a frequência e a gravidade das IFIs com o uso de tansulosina e alfuzosina, dois bloqueadores alfa com menor risco cardiovascular. Este estudo descobriu que a tansulosina é mais susceptível de causar IFI grave”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion (CRM-SP 13.454), diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.

Segundo Centurion, a IFI, em geral, não pode ser evitada simplesmente com a suspensão do medicamento alfa-bloqueador no pré-operatório da cirurgia de catarata. “Há evidências que sugerem que a permanente atrofia muscular da íris pode ser resultado da acumulação do fármaco nos grânulos de pigmento da íris. Embora a cirurgia, nestes casos, possa ser mais desafiadora, a IFI é geralmente tratada com sucesso, utilizando técnicas cirúrgicas adjuntas, quando o cirurgião é avisado da história de medicação do paciente”, explica o oftalmologista, que é membro da ALACCSA, Associação Latino-Americana de Cirurgiões de Córnea, Catarata e Cirurgias Refrativas.

Resultados de um outro estudo sobre cuidados médicos primários publicado na edição de abril no Journal of Cataract and Refractive Surgery, jornal da ASCRS , mostrou que apenas 35% dos médicos inquiridos sabia que os alfa-bloqueadores afetam a cirurgia de catarata e apenas metade deles (17%) levava essa informação em conta na condução do tratamento. A grande maioria dos profissionais (96%) deseja obter mais informações sobre a associação entre a droga e a cirurgia de catarata.

Diante das novas evidências, tanto a Sociedade Americana de Catarata e Cirurgia Refrativa, quanto a Academia Americana de Oftalmologia recomendam aos médicos que o paciente com catarata, que possa precisar de cirurgia no início do tratamento, deve ser tratado com o bloqueador alfa não-emergente. Pacientes com catarata diagnosticada podem considerar realizar a cirurgia mais cedo, antes do uso do medicamento ou ainda o iniciar seu tratamento com um alfa-bloqueador não seletivo primeiro.

“O importante é que os pacientes busquem aconselhamento com seu oftalmologista sobre estas questões. Não existem outros efeitos oculares adversos relacionados aos alfa-bloqueadores, bem como não existem recomendações especiais para os pacientes que já fizeram a cirurgia de catarata em relação ao medicamento”, informa o diretor do IMO.

Considerando a prevalência de ambas as moléstias, tanto a catarata, quanto a hiperplasia benigna da próstata, muitos oftalmologistas se preocupam com o número crescente de casos de IFIS desafiadoras entre os idosos. “Gerenciar os efeitos colaterais e interações complexas de uma lista de medicamentos longa é um desafio. No entanto, o esforço é necessário para reduzir as complicações da cirurgia de catarata em pacientes que fazem uso de alfa-bloqueadores”, defende Virgílio Centurion.

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