Até quando posso dirigir sozinho? Uma boa visão é essencial para a condução de um veículo, para segurança do próprio motorista e dos que o cercam. No Brasil, o exame obrigatório para habilitação é feito por médicos ligados à Associação Brasileira de Medicina de Trânsito (Abramet).
Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito, Denatran, o Brasil conta hoje com 12.217.332 motoristas acima de 61 anos nas ruas. Não há um limite máximo de idade estabelecido por lei para dirigir. “Mas, a partir dos 60 anos é muito importante que o motorista faça exames oftalmológicos periódicos, pois doenças prevalentes na velhice podem ser diagnosticadas precocemente, evitando que a pessoa tenha de abandonar as suas atividades diárias, como a direção do próprio veículo”, defende o oftalmologista Virgilio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Um exame oftalmológico anual pode detectar doenças que interferem no ato de dirigir, como, por exemplo, a catarata (causa uma diminuição global da visão), o glaucoma (afeta a visão lateral) e a degeneração macular.
“A catarata é um obstáculo na hora de dirigir, especialmente à noite, porque provoca uma queda na sensibilidade do contraste da visão e uma sensação de ofuscamento, o que prejudica o motorista na condução do seu veículo. O glaucoma causa a visão tubular, um motorista não diagnosticado pode causar sérios acidentes no trânsito por falta de visão periférica”, diz Virgilio Centurion, membro da ALACCSA, Associação Latino-Americana de Cirurgiões de Córnea, Catarata e Cirurgias Refrativas.
Além da catarata e do glaucoma, a hipertensão e o diabetes também são capazes de causar perdas no campo visual do idoso, fazendo com que este motorista não enxergue um carro que se aproxima pela lateral ou tenha mais dificuldades para manobrar o veículo. “
A presbiopia, a famosa vista cansada, que se inicia por volta dos 40 anos, também afeta a visão. Quem dirige e tem o problema, precisa usar um óculos específico para enxergar bem de perto”, afirma o oftalmologista.
A decisão de parar de dirigir não deve estar relacionada à idade e sim, às condições físicas e psicológicas do condutor do veículo.
“O motorista e a família devem ficar atentos a sinais de perigo na prática desta atividade, como por exemplo, se o condutor bate o carro com freqüência, apresenta dificuldades para estacionar, fura o sinal vermelho porque não consegue distinguir as cores”, diz Virgilio Centurion. Embora os filhos se preocupem com os pais em idade avançada que continuam dirigindo, a família só deve intervir em última instância.
Habilidades necessárias para dirigir
O futuro condutor tem que atender às exigências do Exame de Aptidão Física e Mental e da Avaliação Psicológica, previstos em lei. Nas resoluções relativas à Carteira Nacional de Habilitação (CNH) está estabelecido que os motoristas até 65 anos precisam renovar seu exame de aptidão a cada cinco anos. Acima desta idade, o exame deve ser refeito a cada três anos. O idoso portador da CNH categoria profissional enfrenta outra exigência: a de visão máxima em ambos os olhos, para não ser rebaixado à categoria de motorista amador.
“Na avaliação oftalmológica para tirar a carteira de habilitação ou para renová-la, o especialista faz uma avaliação da motilidade ocular, da acuidade visual, do campo visual, da visão cromática, da visão estereoscópica e, ainda realiza testes de ofuscamento e de visão noturna”, explica o oftalmologista Eduardo de Lucca, que também integra o corpo clínico do IMO. Motoristas que necessitam de óculos ou lentes de contato têm um aviso em suas carteiras.
Para proporcionar uma maior segurança ao idoso no trânsito, além dos exames oftalmológicos periódicos, algumas medidas podem ser adotadas para facilitar a condução do veículo.
“Como os movimentos se tornam mais lentos com a idade, os idosos encontram uma facilidade maior ao dirigir um carro com direção hidráulica. Se o idoso sente alguma dificuldade pra trafegar no trânsito carregado das grandes cidades, a recomendação é guiar por distâncias menores, em lugares que ele já conhece e fora dos horários de pico”, aconselha Eduardo de Lucca. Se o problema for o ofuscamento da visão à noite, é melhor guiar o carro apenas durante o dia.
Ao contrário do que muitos pensam, os idosos não representam uma ameaça no transito. Em 2005, segundo dados do Denatran, 21.645 condutores com mais de 60 anos estiveram envolvidos em acidentes de trânsito com vítimas, frente a 213.850 motoristas na faixa etária entre 30 e 59 anos. A prudência que os idosos demonstram ao dirigir é valorizada pelas companhias de seguro. Motoristas da terceira idade podem pagar até a metade do preço do seguro que é cobrado de um jovem, tendo o mesmo carro e rodando na mesma região.