A noção de que a cirurgia de catarata para alguém com a doença de Alzheimer ou outro tipo de demência é desnecessária, arriscada demais ou muito estressante para este tipo de paciente, está caindo por terra. Novas evidências científicas mostram que a melhoria da visão para os portadores de Alzheimer, após a cirurgia de catarata. O procedimento aumenta tanto a cognição quanto a qualidade de vida do paciente.
De acordo com um estudo apresentado durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer-2014, tanto os pacientes com demência, quanto os seus cuidadores se beneficiam muito quando o paciente pode enxergar melhor.
Para a realização do estudo, foram recrutados 28 pacientes com Alzheimer que fizeram a cirurgia de catarata e 14 que não realizaram o procedimento. O grupo que se submeteu à cirurgia relatou não apenas uma melhora de visão, mas a preservação de suas habilidades cognitivas.
“A visão borrada e os problemas com contraste na visão podem ocorrer em decorrência do envelhecimento e da demência, colocando muitos pacientes em risco de acidentes, como bater em coisas e cair de escadas”, explica o oftalmologista Virgílio Centurion (CRM-SP 13.454), diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Segundo os resultados preliminares do estudo de cinco anos, conduzido por pesquisadores americanos, a cirurgia de catarata em pacientes com doença de Alzheimer diminui o quadro da demência, proporcionando melhoria na qualidade de vida do paciente. De acordo com um dos autores do estudo, Grover Gilmore, a pesquisa pode alterar o tratamento dispensado aos pacientes com Alzheimer, hoje, que muitas vezes têm negado o seu direito de realizar a cirurgia de catarata devido à falta de evidências de qualquer benefício.
Os pacientes não foram os únicos a se beneficiar da cirurgia. Os pesquisadores afirmaram que os cuidadores relataram estar menos estressados após a cirurgia de catarata, porque em decorrência do procedimento, os pacientes com Alzheimer tornaram-se mais independentes, capazes até mesmo de se vestirem, comerem e de continuarem dirigindo.
Os resultados desse estudo apoiam a postura da Associação de Alzheimer que defende que as pessoas com demência têm direito a qualquer tratamento médico disponível, incluindo a cirurgia de catarata. “A percepção que os doentes de Alzheimer não precisam de cuidados extras ou não devem ser submetidos a cirurgias não se justifica e é uma má prática médica. Estudos anteriores já haviam comprovado a eficácia da cirurgia de catarata para pacientes com Alzheimer”, defende Centurion.
Cirurgia de catarata x melhora da qualidade de vida
“Muitos oftalmologistas continuam a usar a medida da acuidade visual como a principal indicação para a realização da cirurgia catarata, apesar das muitas ferramentas disponíveis para medir a qualidade de vida relacionada à função visual.
Hoje, a cirurgia de catarata é uma resposta personalizada da Oftalmologia para melhor atender às necessidades do paciente. Ainda que a cirurgia não modifique o quadro de Alzheimer e nem impeça o avanço da demência, ela parece ser muito relevante para a qualidade de vida deste paciente”, destaca o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO.
A cirurgia de catarata é um procedimento eficaz que tem implicações muito maiores para a vida da população idosa, com demência ou não. Sua importância social não pode ser medida por um gráfico de acuidade visual.
A falsa crença de pacientes e de alguns profissionais de saúde de que a catarata não deve ser extraída até estar “madura” priva muitas pessoas de uma melhor qualidade de vida na velhice. “Quanto mais precoce for a cirurgia de catarata, menor o comprometimento da qualidade de vida, menor o índice de fraturas por quedas espontâneas, maior a integração social, menor a depressão”, destaca Centurion.