Crianças menores de 3 anos que apresentam canais lacrimais bloqueados apresentam maior risco de sofrer com ambliopia ou “olho preguiçoso”, uma condição que pode resultar em perda permanente da visão se não for tratada precocemente.
As informações são de um estudo – High prevalence of amblyopia risk factors in preverbal children with nasolacrimal duct obstruction – publicado na última edição do Journal of the AAPOS, publicação oficial da Associação Americana de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo.
Depois de analisar dados de 375 crianças com ductos lacrimais bloqueados, os pesquisadores descobriram que 22% delas apresentavam fatores de risco oito vezes maiores do que a população em geral para o surgimento da ambliopia. Dessas crianças, 63% desenvolveram ambliopia e necessitaram de tratamento para a doença, abrangendo o uso de óculos e de tampões oculares.
Segundo os autores do estudo, todas as crianças que necessitaram de tratamento para ambliopia apresentavam os ductos lacrimais entupidos, reforçando a forte evidência de que a associação de ambliopia e obstrução do canal lacrimal é mais do que uma coincidência.
A recomendação dos pesquisadores é que todas as crianças com ductos lacrimais bloqueados devem ser submetidas a exames de vista abrangentes, além de serem cuidadosamente monitoradas em relação ao risco de desenvolver ambliopia.
Lágrimas em excesso
Uma das alterações oculares mais freqüentes observadas em crianças com menos de um ano de idade é a Obstrução Congênita das Vias Lacrimais (OCVL). A causa mais comum de lacrimejamento do recém-nascido é a obstrução do canal lacrimal.
“Além da obstrução congênita das vias lacrimais, outras doenças, tais como glaucoma congênito, conjuntivite, triquíase (cílios que nascem virados para o olho) e fechamento incompleto das pálpebras também podem provocar o excesso de lacrimejamento”, explica o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Segundo o médico, a principal causa de obstrução do canal lacrimal é a presença de uma membrana na região da válvula de Hasner, no local de abertura do ducto nasolacrimal, na cavidade nasal. Quando o canal lacrimal fica muito tempo obstruído pode haver inflamação ou infecção, pois a lágrima permanece retida por um período muito longo.
“Nesse caso, o local da inflamação – canto interno e inferior do olho, próximo à base do nariz – fica vermelho, inchado e dolorido. Em alguns casos, há saída de secreção purulenta pelo orifício de entrada do canal lacrimal’, informa.
“O diagnóstico de obstrução do ducto nasolacrimal é feito quando o oftalmologista encontra a combinação de lacrimejamento, presença de secreção muco purulenta, aspecto de ‘olho melado’ e dermatite na pálpebra inferior, sem sinais inflamatórios. Além das alterações causadas pelo lacrimejamento é comum que a criança apresente com maior freqüência episódios de conjuntivite bacteriana. O excesso de umidade nos olhos favorece o desenvolvimento de bactérias que causam a conjuntivite”, explica a oftalmopediatra do IMO, Maria José Carrari.
Na grande maioria dos casos, a OCVL desaparece antes do primeiro ano de vida da criança, com a realização de massagens, a aplicação de compressas com água morna, a limpeza dos olhos com soro fisiológico ou com o uso de colírios de lágrima artificial.
“Quando as massagens e o tempo não resolvem o problema, surge a necessidade de desobstrução do ducto nasolacrimal através de um procedimento cirúrgico chamado sondagem, realizada pelo oftalmologista. Normalmente, não realizamos este tipo de procedimento antes dos nove meses de idade”, afirma Maria Carrari.
O olho preguiçoso
A ambliopia ou “olho preguiçoso” é caracterizada por uma diminuição da acuidade visual, quando um dos olhos desenvolve uma boa visão, enquanto o outro, chamado de amblíope, não, o que torna a visão mais pobre. Normalmente, apenas um olho é afetado pela ambliopia, mas é possível que ambos os olhos sejam ‘preguiçosos’. Esta condição é chamada ambliopia bilateral”, explica a oftalmopediatra do IMO.
A ambliopia é uma condição comum: cerca de duas ou três em cada 100 pessoas têm ambliopia. A doença é a principal causa de cegueira infantil monocular e de deficiência da visão infantil. “A ambliopia é a causa mais comum de deficiência visual na infância, afetando cerca de 2-4% das crianças. A menos que seja tratada com sucesso na primeira infância, a ambliopia geralmente persiste na idade adulta”, afirma Maria Carrari.
Detecção precoce é fundamental
Se o “olho preguiçoso” não é detectado e tratado ainda na primeira infância, a visão daquele olho fica pior porque não está sendo usada.
Hoje, muitos oftalmologistas dedicam-se ao estudo do tratamento da ambliopia após os 07 anos de idade, tentando determinar se o esforço é válido. “As pesquisas recentes apontam alguma melhora na acuidade visual do ‘olho preguiçoso’ em crianças com idade de até 12 anos. O que não sabemos ainda é se com a idade avançada, esta melhoria vai perdurar após a interrupção do tratamento e se a perda de percepção de profundidade pode ser revertida”, informa a médica.
Portanto, o consenso médico é que quando mais cedo a ambliopia for diagnosticada, melhor. “A Parte inferior do formulário
melhor época para correção da ambliopia é durante o início da infância, pois para ter uma visão normal, é importante que ambos os olhos desenvolvam a capacidade de ver com igualdade. Se uma criança tem ambliopia e não pode contar com a visão de um de seus olhos, sua visão não se desenvolve corretamente e pode até diminuir”, explica Maria Carrari.
Como até os nove primeiros anos de vida, o sistema visual está em desenvolvimento, é muito importante diagnosticar o problema precocemente. “Se o tratamento da ambliopia não é iniciado o mais cedo possível, vários problemas podem se desencadear, afetando seriamente a visão na infância e na idade adulta”, diz a médica.
Razões para tratar a ambliopia
- O olho amblíope pode desenvolver um defeito visual grave e permanente;
- A percepção de profundidade (ver em três dimensões) pode ser perdida. Para ter uma boa visão, em ambos os olhos, é necessário para que a noção de profundidade se desenvolva;
- Se o olho que não foi afetado pela ambliopia torna-se doente ou é ferido, isto pode significar uma baixa visão durante o resto da vida.
Importância do tratamento da ambliopia
O tratamento padrão para a ambliopia é bloquear a visão temporariamente no “olho mais forte” para forçar a criança a usar “o mais fraco”. Dois métodos são comumente utilizados: um tampão usado sobre “o mais olho mais forte” por duas ou mais horas por dia ou a instilação de colírio de atropina, que dificulta a visão no olho mais forte durante um dia.
“Dessa forma o olho com ambliopia tem a oportunidade de assumir melhor fixação e se encarregar totalmente da visão. O tampão com adesivo é utilizado de preferência no início do tratamento da ambliopia e nos casos de ambliopia severa, isto é, com visão abaixo de 20/100 (a visão normal é 20/20)”, informa Maria Carrari.
O tampão ocular pode ser usado em regime total ou parcial. Este critério é subjetivo e o oftalmologista vai optar por um ou outro conforme a ambliopia, a idade da criança e suas atividades, além de levar em conta se ela já vinha fazendo tratamento, se tem estrabismo, nistagmo associado, dentre outros pontos a serem considerados.