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É seguro fazer a cirurgia de catarata depois dos noventa anos?

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Quando o assunto é a realização de cirurgia de catarata em pessoas muito idosas, com mais de 90 anos, os oftalmologistas sempre expõem seus temores sobre o tema: os múltiplos riscos. No entanto, novos resultados de um estudo – Prevalence and Predictors of Ocular Complications Associated with Cataract Surgery in United States Veterans – publicados na revista Ophthalmology indicam que  pacientes com 90 anos ou mais não são mais propensos a sofrer complicações do que pacientes com 80 anos ou um pouco menos.

A equipe de pesquisadores, coordenada por Paul B. Greenberg, decidiu estudar as doenças sistêmicas associadas à cirurgia de catarata, pois é cada vez mais comum pacientes nesta idade decidirem operar. Num estudo anterior, Greenberg já havia analisado os fatores de risco para complicações oculares, após a cirurgia de catarata, analisando dados de pacientes com mais de 80 anos.

Desta vez, a pesquisa visava descobrir se o fato de ter 90 anos ou mais aumenta o risco de complicações pós-cirúrgicas. Foram incluídos no estudo, 554 nonagenários e 11.407 octogenários que haviam sido submetidos a cirurgia de catarata no Veterans Health Administration, entre outubro de 2005 e setembro de 2007.

Comorbidades e complicações

Quando os investigadores analisaram as doenças sistêmicas associadas aos dois grupos, eles encontraram uma diferença interessante. Pacientes com 90 anos ou mais apresentavam menos doenças. O grupo de referência com 80-89 anos tinha uma taxa ligeiramente superior de DPOC – doença pulmonar obstrutiva crônica, neoplasias malignas e diabetes descompensado. Já os participantes do estudo com  90 anos ou mais apresentavam uma taxa ligeiramente maior de demência, natural e relacionada à idade.

Os pesquisadores, liderados por Greenberg, descobriram que as taxas de complicações foram semelhantes em ambos os grupos. O grupo de nonagenários não apresentou aumento do risco cirúrgico. Não houve aumento no risco de complicações, quando comparados nonagenários e octogenários. Os octogenários, que formavam o grupo controle, tinham os mesmos riscos de complicações. Os índices eram quase idênticos: octogenários em 13,5% e 13,4% em nonagenários.

Nonagenários saudáveis

“As conclusões  do estudo mostram que se você chegar aos  90 anos ou mais, saudável o suficiente para se submeter a uma cirurgia de catarata, você está em boa forma sistêmica. Segundo os pesquisadores, o que eles têm visto são mais pessoas saudáveis chegarem aos 90 anos”, explica o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.

Greenberg destacou que seu estudo não se destina a ensinar os oftalmologistas a selecionarem pacientes com 90 anos ou mais para a cirurgia de catarata. Mesmo assim, a pesquisa oferece informações importantes sobre pacientes com 90 anos ou mais que decidem fazer uma cirugia de catarata, oferecendo uma idéia sobre as complicações que podem surgir no pós-operatório.

Envelhecimento mundial

“Ao analisarmos os dados apresentados, percebemos a urgência de realizarmos mais pesquisas com pacientes com mais de 90 anos, pois esta faixa etária cresce em todo o mundo. De acordo com dados do Censo 2010, o alargamento do topo da pirâmide etária brasileira pode ser observado pelo crescimento da participação relativa da população com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em 1991, passando a 5,9% em 2000 e chegando a 7,4% em 2010. De acordo com dados do Censo 2010, temos 424.894 brasileiros na faixa dos 90 anos de idade”, informa o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.

Cabe aos oftalmologistas planejar melhores condutas e programas de atendimento aos idosos, pois quanto mais tempo de vida, maior a chance de doenças circulatórias, maculares, glaucoma, descompensação corneana, dentre outras moléstias.  “O viver mais deve estar associado ao viver com maior qualidade. Se a baixa visão compromete a autonomia do indivíduo, ela conseqüentemente prejudica sua qualidade de vida. Como oftalmologista é preciso interferir nesse contexto. A manutenção de uma melhor visão pode fazer uma enorme diferença”, defende Centurion.

O idoso não precisa chegar à quarta idade enxergando mal. Não devemos encarar a perda da visão como parte da história natural do envelhecimento. O ganho de visão pode fazer com que o idoso mantenha sua independência. Se este ganho for na visão de perto, por exemplo, ajuda a preservar a leitura, uma de suas principais atividades, como meio de interação social, diversão e contato com o mundo.

O idoso que enxerga mal aumenta seu risco de queda, atropelamento, uso trocado de medicação ou dosagem errada, resultando em complicações importantes e até risco de morte. Muitas vezes, a baixa visão acarreta em isolamento e depressão, afastando o indivíduo do convívio social.

Idosos são todos iguais?

Como o envelhecimento da população é um fenômeno mundial é importante atentar para o fato de que não basta apenas saber sobre as principais doenças desta faixa etária, após os 65 anos. “Um idoso de 65 anos não é semelhante a um idoso de 90 anos. Fica, portanto, evidente que o olho de um idoso de 65 anos deve ser pensado de forma diferente de um olho de um idoso com 90 anos de idade. Vale destacar que, nos próximos anos, cada vez mais se verá a divisão da oftalmologia de acordo com sub-grupos etários”, diz o diretor do IMO.

Se o olho envelhece, degenera-se ou evolui com catarata, é um compromisso do oftalmologista  tentar contornar tais processos da melhor forma possível, intervindo no momento adequado e da maneira correta, de acordo com a idade e demais fatores de risco de cada paciente.

A catarata, como qualquer outra doença, deve ser tratada prioritariamente de forma precoce, ou seja, paciente com queixa visual relacionada à catarata deve ser submetido a tratamento cirúrgico. “Não devemos aguardar a piora da sintomatologia, frequentemente associada com o avanço da idade, para indicar o tratamento cirúrgico. Exemplificando, um paciente com 80 anos de idade e com catarata sintomática precisa ser tratado, agora, porque a perspectiva de vida hoje e no futuro será maior. O que não pode ser feito é postergar a cirurgia porque ele ‘já é idoso’ … Pois sabemos que que é muito grande a possibilidade deste paciente ficar mais idoso”, alerta Virgílio Centurion.

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