Uma dificuldade enorme de leitura de livros, jornais, cardápios, bulas de remédio e de todos os textos, que ficam cada vez menores conforme avançam os anos. Estamos falando da presbiopia, a popular “vista cansada”, que atinge perto de 100% da população entre os 40 e os 50 anos e é uma consequência natural do envelhecimento. Com o tempo, a lente do olho, o cristalino, se torna mais rígida e já não se expande ou se contrai conforme a nossa necessidade. “Como conseqüência, tudo o que está perto do campo de visão vira um borrão indecifrável. Como passamos todos os momentos do dia alternando a visão entre objetos próximos e distantes, a condição logo se torna um tormento, pelo incômodo e pelo desconforto de alternar um óculos ‘para perto’ e ‘outro para longe’ ”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Tratamento cirúrgico
Tratar ou curar a “vista cansada” é hoje o grande desafio da Oftalmologia. Mais de uma década depois de o laser ter se mostrado uma opção confiável para corrigir a miopia e a hipermetropia, ainda não há remédio definitivo para o mais trivial dos males oculares. “Mas estamos avançando neste campo, diversas técnicas cirúrgicas têm sido usadas para combater a presbiopia. A lente mais moderna para este fim é a multifocal, que permite ao olho fazer os ajustes necessários para enxergar os objetos que estão em diferentes profundidades. Uma das opções mais recentes é a cirurgia que substitui o cristalino por uma lente artificial, operação semelhante à da cirurgia de catarata, mas com outro tipo de lente”, explica Centurion.
Como alternativa para correção da presbiopia há também a báscula, ou monovisão, uma adaptação da cirurgia a laser para corrigir miopia e hipermetropia. Nela, o cirurgião faz com que o olho dominante fique com boa visão para longe, e o outro, com boa visão para perto. “Consegue-se isso deixando aproximadamente 1/1 grau de miopia no olho não dominante e corrigindo totalmente o outro, para causar uma espécie de mecanismo compensatório. O olho míope tem dificuldade para enxergar de longe, mas enxerga melhor de perto do que o olho que não tem miopia. É neste preceito que essa técnica se baseia”, explica o oftalmologista Virgilio Centurion. Para o cérebro, em qualquer um dos casos, será como se a pessoa enxergasse bem a qualquer distância, pois, quando a imagem de cada um dos olhos chega, ele automaticamente suprime a que estiver fora de foco e forma uma única imagem nítida.
Outra cirurgia da córnea utilizada nos casos de correção da “vista cansada” é a ablação multifocal. Nela, o médico utiliza o laser para transformar a córnea em uma espécie de lente multifocal, aplicando os feixes de forma diferenciada em cada área. Com isso, propicia-se a boa visão a qualquer distância. “Essa técnica só não é indicada para quem trabalha com precisão ou dirige muito à noite, pois pode provocar halos de luz e sombras e diminuir a sensibilidade ao contraste. Justamente por isso, costuma ser usada em conjunção com a báscula. Enquanto um olho ganha a córnea multifocal, o outro fica ajustado para enxergar melhor de longe”, afirma o oftalmologista Juan Caballero, que também integra o corpo clínico do IMO.
Evoluções
As cirurgias corneanas aprimoraram-se bastante nos últimos anos. Não é mais preciso o uso de tampões e a anestesia é um colírio. O tempo de cirurgia é menor e a recuperação do paciente é abreviada. Outro avanço nessa área é um aparelho que segue a pupila durante a cirurgia. Desenvolvido com a mesma tecnologia criada para rastreamento de mísseis, ele permite que o laser seja aplicado no lugar certo, ainda que o paciente se desconcentre e movimente o olho no decorrer da operação. “A pessoa já enxerga bem logo depois da cirurgia, mas vai demorar de duas a três semanas para chegar à visão final. Além disso, o índice de retoque da cirurgia corneana, que era de 25%, hoje não passa de 2%”, diz Juan Caballero.
Os equipamentos para diagnóstico também estão mais precisos, permitindo que o oftalmologista perceba qualquer deformação da córnea. É possível avaliar melhor se o paciente está apto à cirurgia de correção da presbiopia e qual delas é a mais indicada. “Ainda assim, nenhuma cirurgia é garantida. O paciente tem de entender que não vai voltar a enxergar como quando tinha 18 anos. Mas para quem sofre com a presbiopia, livrar-se do eterno tira e põe dos óculos de leitura já é muito reconfortante”, alerta Caballero.