Antes mesmo de engravidar, a futura mamãe já pode tomar alguns cuidados que podem garantir a saúde ocular do bebê. Por exemplo, estar com a carteira de vacinação em dia é muito importante. No caso da rubéola é essencial que pai e mãe estejam vacinados para evitar má formação do feto.
Se a gravidez veio sem planejar, é bom saber que mães que durante a gravidez, especialmente no primeiro trimestre de gestação, tiveram rubéola, toxoplasmose, infecções intrauterinas, citomegalovírus e sífilis estão mais sujeitas a transmitir essas infecções para o feto, aumentando as chances de o bebê apresentar problemas oftalmológicos. “Nestes casos específicos, é bom que a criança seja submetida a um exame oftalmológico completo, assim que nascer”, recomenda o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
No caso da toxoplasmose, a realização do exame faz parte de um conjunto de exames rotineiros de assistência pré-natal. Resultado negativo indicando que a mulher nunca teve contato com o parasita reflete uma situação de potencial preocupação, porque se ela se infectar durante a gravidez poderá transmitir o parasita para o bebê e a criança nascerá infectada. Já o resultado for positivo, indicando toxoplasmose antiga e curada traz maior tranquilidade, pois a mulher está protegida contra a doença e não vai adquiri-la outra vez. As grávidas devem ter um cuidado especial com a prevenção desta doença. Como algumas vezes, a toxoplasmose não se manifesta, a mulher pode não perceber que foi infectada e transmitir a doença ao feto. “A enfermidade é diagnosticada por meio de exames de sangue. Ao tratarmos da mãe, tratamos também o feto, o que diminui muito as chances da criança nascer com toxoplasmose”, explica a oftalmopediatra do IMO, Maria José Carrari.
Os problemas que a toxoplasmose pode causar ao bebê variam de acordo com o trimestre da gravidez em que ocorre a infecção materna. No primeiro trimestre, se a mãe está com a doença ativa e há a transmissão para o bebê, os perigos são maiores. “A criança pode ter encefalite e nascer com as sequelas da doença ou apresentar lesões oculares cicatriciais e prejuízo importante da visão, dentre outras consequências”, informa Maria José Carrari.
É bem verdade que, nesta fase, não é incomum o abortamento espontâneo tal o tamanho dos danos que o parasita provoca no feto. De qualquer maneira, nesse período, a probabilidade de transmissão para o embrião é menor, não ultrapassa a 10%, 20% dos casos.
Já no segundo trimestre, a transmissão ocorre em 1/3 das gestações em que a mãe apresenta a doença ativa, mas o feto consegue conviver razoavelmente com as agressões do parasita que serão mais atenuadas, embora possam ocorrer nascimentos com pequeno retardo mental e problemas oculares, por exemplo. No terceiro trimestre, a transmissão da mãe para o feto é muito comum, mas a doença se mostra menos problemática para o recém-nascido.
Após o nascimento…
“O bebê começa a perceber a luz ainda dentro do útero, entre o sexto e o sétimo mês de gestação, quando as pálpebras ganham movimento”, diz a oftalmopediatra do IMO. Quando nasce, ele consegue enxergar o que o rodeia bem de perto – entre 15 e 40 centímetros – na forma de vultos enevoados, sem detalhes ou profundidade e apenas distingue algumas cores, principalmente os tons fortes. No início da vida é como se os bebês vissem o mundo através de um vidro embaçado. “À medida em que crescem, a visão evolui. É como andar ou falar, uma conquista gradativa, que depende de treino e do amadurecimento neurológico”, explica Maria José Carrari.
“As conexões da retina com a região do cérebro que recebe os impulsos da visão só ficam maduras por volta dos seis meses de idade”, afirma a oftalmologista.
Os principais avanços no desenvolvimento da visão ocorrem nos seis primeiros meses de vida. “Aos dois meses, um bebê ainda não consegue distinguir bem um gato de uma criança que passa ao lado do seu carrinho. No sexto mês, ele já sabe a diferença entre um e outro. Nessa fase, ele começa a ver objetos em três dimensões e tem maior noção de espaço”, diz a oftalmologista Maria Carrari.
Até o terceiro mês de vida, os bebês têm dificuldades para coordenar o alinhamento dos olhos, pois os músculos responsáveis pela movimentação do globo ocular estão em desenvolvimento, mas isso vai se ajustando naturalmente. Mesmo precisando de acertos, a visão é um dos primeiros sentidos que o bebê utiliza para interagir com a mãe. “É pelo contato olho no olho que o bebê busca expressar o que está sentindo nos primeiros meses, além do choro, é claro”, afirma Maria Carrari.
“É também por meio da visão que o bebê percebe que é igual às pessoas que o cercam, momento em que descobre a própria imagem no espelho, o que costuma ocorrer entre o primeiro e o segundo ano de vida”, explica a médica. Por volta do dois anos de idade, a criança já vê como um adulto, mas o desenvolvimento neurológico completo da visão só se dá entre seis e oito anos.
“Por isso, quanto antes o diagnóstico dos problemas de visão no bebê for feito, maiores as chances de garantir à criança uma visão normal na vida adulta”, afirma a oftalmologista Maria José Carrari.
Como diagnosticar problemas de visão
Logo ao nascer, o bebê deve ser submetido ao teste do olhinho vermelho. O teste do olhinho ainda é um procedimento pouco conhecido da população, mas é capaz de detectar uma série de problemas de visão em bebês e complicações que podem levar até à cegueira.
Para realizá-lo, o oftalmologista aponta um foco de luz em cada um dos olhos do recém-nascido para observar o reflexo que se forma no fundo das pupilas – o mesmo que costuma aparecer nas fotos quando se olha diretamente para a luz do flash. “Podem ser detectados por meio do procedimento tumores, catarata congênita, traumas de parto e erros de refração: miopia, hipermetropia e astigmatismo”, diz a oftalmologista.
O diagnóstico precoce de doenças oculares que só seriam percebidas mais tarde, quando as chances de tratamento já estariam limitadas é o grande mérito do teste do olhinho. No caso da catarata congênita, o bebê deve ser submetido a uma cirurgia antes do segundo mês de vida, quando as chances de recuperação da visão chegam a 100%.
Outra moléstia que pode ser detectada pelo teste do olhinho é o glaucoma congênito, que se caracteriza pelo aumento da pressão no interior do globo ocular. “Neste caso, o bebê precisa ser submetido a uma cirurgia de urgência para evitar que o olho atingido seja permanentemente lesado”, explica a médica.
O retinoblastoma, tumor maligno que pode ser curado se o diagnóstico for precoce, é outra doença que pode ser diagnosticada por meio do teste. Segundo a Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer, 400 novos casos da doença são registrados por ano no Brasil. Originário das células da retina, o retinoblastoma é causado por mutação genética. O problema costuma dar seus primeiros sinais entre o nascimento e os 23 meses de vida da criança. “Detectado precocemente, o retinoblastoma tem tratamento e o bebê terá a visão poupada, após a realização da quimioterapia ou da radioterapia”, diz a especialista.
Ao iniciar a vida escolar é preciso que pais e professores fiquem atentos aos problemas de visão na criança, pois o processo de ensino-aprendizagem depende primordialmente da visão. Na verdade, o ideal é fazer um exame oftalmológico completo, dando ênfase ao diagnóstico de vícios de refração – miopia, hipermetropia e astigmatismo – todo início de ano letivo.
O exame de motilidade ocular também é muito importante, pois detecta o potencial de mobilidade da musculatura do olho: se existe limitação à movimentação, incoordenação; dessincromia ocasionando visão dupla, dores de cabeça ou ainda a presença de doenças oculares, endócrinas ou cerebrais. “A avaliação da motilidade ocular é realizada através do oclusor manual ou do reflexo luminoso corneal, solicitando que o paciente fixe o olhar num ponto. Assim pode ser verificado o desvio dos olhos para perto ou para longe. Por meio deste exame, o oftalmologista pode diagnosticar o estrabismo”, explica a médica.
É também na fase escolar que deve ser iniciada a realização do exame de fundo de olho, região que fica entre o cristalino e a retina. O procedimento pode identificar doenças sérias como tumores e problemas vasculares. Qualquer alteração nessa área pode apontar um desequilíbrio no corpo. Para observá-la é usada uma lente especial, que aumenta a imagem diversas vezes. O exame completo só pode ser feito com a pupila dilatada.
Analisando os vasos sanguíneos do fundo do olho, o oftalmologista pode detectar problemas de pressão. O exame pode ainda identificar diabetes, leucemia, inflamações reumáticas, tuberculose, toxoplasmose e desequilíbrios da tiroide. “O exame de fundo do olho não se caracteriza como um exame preventivo, pois quando um sintoma aparece no olho, com certeza já existe uma doença instalada no organismo. Sua função principal é ajudar no diagnóstico de doenças que, às vezes, não foram percebidas pelo paciente, nem por outros médicos”, diz a especialista.