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Síndrome de Sjögren, diabetes e pressão alta: exame oftalmológico pode revelar doenças sistêmicas

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Durante uma consulta oftalmológica, Maria descobriu que tinha uma rara doença autoimune: a Síndrome de Sjögren… João surpreendeu-se com a notícia de que sua pressão arterial estava altíssima… Francisco assustou-se ao saber que o seu diabetes estava descompensado.

Isso se dá porque o exame oftalmológico apresenta íntima relação com diversas especialidades médicas, tais como a clínica médica, a neurologia, a cardiologia, a reumatologia e a endocrinologia. “Em alguns casos, o exame oftalmológico é indispensável para o diagnóstico e acompanhamento de diversas patologias, tais como diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, patologias auto-imunes e neurológicas, casos em que o oftalmologista trabalha em conjunto com outros médicos especialistas”, explica o oftalmologista Virgilio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.

Diabetes descompensado

Uma administração bem-sucedida do diabetes requer um esforço conjunto de uma equipe multidisciplinar formada por endocrinologista – especializado em diabetes – nutricionista, oftalmologista, podólogo e educador físico. O grande desafio desta equipe é focado na obtenção do bom controle glicêmico e pressórico, que geralmente é obtido por uma avaliação clínica rigorosa e por uma ação terapêutica efetiva.

Uma das mais sérias comorbidades do diabetes é a retinopatia diabética, caracterizada por alterações vasculares, lesões que aparecem na retina, podendo causar pequenos sangramentos e a perda da acuidade visual. É exatamente devido ao aparecimento destas alterações vasculares que o oftalmologista pode detectar o diabetes descompensado no paciente.

A Academia Americana de Oftalmologia preconiza que o exame oftalmológico deve ser realizado no momento do diagnóstico do diabetes, principalmente naqueles com diabetes do tipo 2, já que a prevalência de retinopatia é alta neste grupo de pacientes. Nos pacientes com diabetes tipo 1, a prevalência é bem menor nos primeiros 5 anos da doença (13%), aumentando muito após 10-15 anos (90%) (48-50). Se o diabetes for diagnosticado na gestação, o exame deve ser repetido trimestralmente mesmo que a visão corrigida seja perfeita (20/20) e o paciente ainda não apresente sintomas visuais.

A detecção precoce da retinopatia diabética é muito importante para a eficácia dos tratamentos. O exame oftalmológico completo, incluindo a oftalmoscopia (direta e indireta) e a biomicroscopia da retina sob midríase medicamentosa é fundamental para a detecção e estadiamento da retinopatia. A retinografia também é importante para a detecção e a avaliação da progressão da doença e dos resultados do tratamento.

Hoje, contamos também com a tomografia de coerência óptica, o OCT, exame que é capaz de fornecer uma gama de informações sobre o edema macular, complementando a fundoscopia e a angiografia contrastada. A realização do OCT auxilia o diagnóstico e o tratamento de doenças maculares como edemas, degeneração macular relacionada à idade,  retinopatia diabética e  glaucoma, dentre outras.

Hipertensão arterial

A hipertensão é um mal silencioso. Sua taxa de incidência é de 30% na população brasileira, chegando, de acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão, a mais de 50% na terceira idade. Geralmente, as complicações da hipertensão quando não levam à morte prejudicam a qualidade de vida do paciente. “No que se refere à visão, oclusões vasculares retinianas, retinopatia hipertensiva, aparecimento de vasos sanguíneos anormais na retina e o desenvolvimento do glaucoma são as complicações mais comumente diagnosticadas em pacientes que apresentam hipertensão arterial”, afirma o oftalmologista Edson Branzoni Leal, que também integra o corpo clínico do  IMO.

A retinopatia hipertensiva é um distúrbio de visão que ocorre quando a pressão arterial torna-se extremamente elevada, como nos casos de hipertensão grave, hipertensão maligna e toxemia gravídica. As repercussões da hipertensão arterial se fazem sentir, principalmente, no leito vascular de órgãos alvo, dentre estes, os olhos. “O diagnóstico precoce dos sinais e lesões referentes à retinopatia hipertensiva permite avaliar a gravidade da hipertensão arterial, e, principalmente, realizar um acompanhamento evolutivo das lesões orgânicas hipertensivas como hemorragias na retina, microaneurismas, exudatos – extravasamento de gordura – espasmos arteriolares e estase de papila”, diz Edson Branzoni Leal.

Os exames oftalmoscópicos das alterações vasculares – fundoscopia e oftalmoscopia direta e indireta – permitem que as alterações causadas pela hipertensão sejam diagnosticadas precocemente. “É interessante destacar que a fundoscopia é um método prático para se avaliar os danos em outros órgãos alvo, além de fornecer informações sobre a severidade da doença”, explica o oftalmologista Edson Branzoni Leal.

As alterações vasculares do olho podem comprometer a visão do paciente e exigem tratamento imediato da pressão arterial elevada. Nestes casos, o oftalmologista trabalha em conjunto com um clínico geral ou com o cardiologista que acompanha o paciente.

Outra complicação decorrente da hipertensão é a obstrução da circulação sangüínea retiniana. “A veia central retiniana é o principal vaso sangüíneo que transporta o sangue a partir da retina. A sua obstrução faz com que as veias menores da retina fiquem congestionadas e tornem-se tortuosas. Assim, a superfície da retina torna-se congesta e edemaciada e pode ocorrer um escape de sangue no olho”, diz o oftalmologista.

As alterações permanentes da visão causadas pela hipertensão arterial incluem, ainda, o crescimento de novos vasos sangüíneos anormais na retina e o desenvolvimento do glaucoma. “A angiografia com fluoresceína é outro exame que auxilia o oftalmologista a determinar a extensão da lesão e o melhor plano terapêutico para cada paciente”, diz Edson Branzoni.

Síndrome de Sjögren

A Síndrome de Sjögren é uma doença autoimune crônica, em que o sistema imunológico do próprio paciente erroneamente ataca as glândulas produtoras de lágrimas e saliva. O problema se dá porque os linfócitos infiltram-se nestas glândulas, provocando a diminuição da produção de saliva e lágrimas. “Assim, a característica principal da Síndrome de Sjögren é a secura nos olhos e na boca, mas ela também pode causar ressecamento de pele, nariz e vagina, além de afetar outros órgãos do corpo, inclusive os rins, pulmões, fígado, pâncreas e cérebro”, explica a oftalmologista Sandra Alice Falvo. Fadiga e dor nas articulações, que podem comprometer de forma significativa a qualidade de vida do paciente, também são sintomas freqüentes.

O diagnóstico do problema não é uma tarefa fácil, uma vez que os sintomas da Síndrome de Sjögren podem se assemelhar aos de outras doenças como o lupus, a artrite reumatóide, a síndrome da fadiga crônica, a fibromialgia, a esclerose múltipla e a doença de Alzheimer. “Devido a variedades de sintomas, além do acompanhamento oftalmológico, o paciente precisa ser acompanhado também por outros especialistas, como reumatologistas e dentistas”, diz a médica. É importante que o paciente seja atendido por esta equipe multidisciplinar, pois nem todo ressecamento pode ser resultado da Síndrome de Sjögren. Muitos medicamentos, inclusive os usados para o tratamento da hipertensão arterial, da depressão, de resfriados, de alergias e de problemas gastrointestinais podem causar secura nos olhos e na boca.

Alguns exames são úteis para o diagnóstico de Síndrome de Sjögren, dentre os quais, destacam-se:

  • O Teste de Schirmer, para medir a produção de lágrimas e o teste do corante Rosa Bengala,  que é a observação através de lâmpada especial, do filme de lágrimas dos olhos – feitos por um oftalmologista;
  • A medida da produção de saliva, o exame das glândulas salivares e/ou biópsia das glândulas salivares secundárias localizadas nos lábios, com o objetivo de determinar a presença de linfócitos –  exame realizado por um dentista;
  • O exame de sangue para marcadores específicos ou auto-anticorpos indicativos da Síndrome de Sjögren ( SS-A ou SS-B ) – este exame é solicitado por um reumatologista.

A Síndrome de Sjögren não representa risco iminente de vida, mas certamente provoca profundas alterações na vida do paciente. Com uma conduta terapêutica apropriada, a qualidade de vida pode ser melhorada. “Como a doença não tem cura, o diagnóstico e a intervenção precoces podem afetar o curso da doença. O tratamento dependerá dos sintomas e do seu grau de severidade. Lágrimas artificiais e substitutos de saliva podem amenizar os sintomas de ressecamento. Anti-inflamatórios não esteróides (DAINS), esteróides e os imuno-supressores também são freqüentemente usados no tratamento da Síndrome de Sjögren”, explica a oftalmologista Sandra Alice Falvo.

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