Pode haver uma ligação entre a ingestão de vasodilatadores e o desenvolvimento da degeneração macular relacionada à idade, (DMRI), em estágio inicial. A doença é a principal causa de perda de visão e cegueira entre os americanos com 65 anos ou mais. As informações são de um estudo publicado on-line na Ophthalmology, revista da Academia Americana de Oftalmologia.
A degeneração macular relacionada à idade – deterioração da mácula, área central da retina, que é responsável pela capacidade de ver detalhes – afeta um número estimado de 11 milhões de pessoas nos Estados Unidos. “Além do aumento da idade, a degeneração macular relacionada à idade pode ser atribuída a diversos fatores de risco, incluindo o risco hereditário e o tabagismo”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion (CRM-SP 13.454/ RQE Nº 6406), diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Alguns estudos também encontraram uma associação entre DMRI e pressão arterial elevada, mas nada muito consistente. Para ajudar a esclarecer a relação entre a incidência DMRI e a redução da pressão arterial feita por meio de medicamentos, incluindo vasodilatadores, os pesquisadores da Escola de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Wisconsin realizaram um estudo de base populacional de longo prazo, entre 1988-2013, com cerca de 5.000 moradores de Beaver Dam, Wisconsin, com idades entre 43-86 anos. A pesquisa faz parte do The Beaver Dam Eye Study, que desde 1987 recolhe informações sobre a prevalência e a incidência de degeneração macular e retinopatia diabética.
Os pesquisadores descobriram que, após o ajuste para idade, sexo e outros fatores, o uso de qualquer vasodilatador foi associado com um risco 72% maior de desenvolver o estágio inicial de DMRI. Entre as pessoas que não estavam tomando vasodilatadores, cerca de 8,2% desenvolveram sinais de DMRI precoce. Em comparação com os que tomaram um medicamento vasodilatador, 19,1% desenvolveram a doença.
Os pesquisadores também descobriram que tomar certos beta-bloqueadores orais está associado com um aumento de 71% do risco de DMRI neovascular, uma forma mais avançada da doença. Entre os que não estavam tomando beta-bloqueadores por via oral, houve uma estimativa de 0,5% de desenvolver sinais de DMRI neovascular. Na comparação entre aqueles que tomam beta-bloqueadores orais, 1,2% desenvolveu DMRI neovascular.
Embora o estudo forneça estimativas de risco da associação entre a redução da pressão arterial medicamentosa e a DMRI, em vários estágios, os pesquisadores advertem que o estudo não foi capaz de discernir os efeitos dos diferentes medicamentos e as condições nas quais os participantes estavam ingerindo esses medicamentos.
“Tão significativos quanto estes resultados podem ser, é importante que eles sejam replicados, em primeiro lugar, e, se possível, testados em ensaios clínicos de configuração mais ampla, antes de alterarmos os regimes de medicação dos pacientes hipertensos. Mais pesquisas são necessárias para determinar a causa do aumento dos riscos de DMRI”, defende o oftalmologista Juan Caballero, (CRM-SP 63.017/ RQE Nº 17766), que também integra o corpo clínico do IMO.