“Ao longo dos anos, a cirurgia de catarata foi um dos procedimentos que mais evoluiu no mundo. Prova disso é que há algumas décadas a cirurgia era realizada sob anestesia geral e o paciente permanecia internado por cerca de cinco dias. Com muita sorte, após o procedimento, ele ainda usaria os famosos óculos ‘fundo de garrafa’. Durante muito tempo, nós, oftalmologistas modernos, desfrutamos da fusão de todas as tecnologias e de todo o conhecimento acumulado por diversas culturas e passamos a dominar a técnica do que denominávamos ‘moderna cirurgia de catarata’. Até que tudo mudou novamente, mas radicalmente, em 2013…”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion (CRM-SP 13.454), diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares, que acaba de lançar o livro Cirurgia de Catarata com Femtosegundo, CICAFE, pela editora Cultura Médica.
2013: ano da introdução da tecnologia femtosegundo no Brasil
Em 2013, tudo o que estava consolidado no campo do conhecimento da cirurgia de catarata mudou, exigindo muito mais habilidade e conhecimento científico do cirurgião e mais atenção do paciente na escolha do método a ser usado.
A história da cirurgia de catarata está repleta de homens que enfrentaram as críticas e a incredulidade de seus contemporâneos. Segundo Centurion, o livro reflete o momento atual em que a comunidade oftalmológica debate o emprego do femtosegundo na cirurgia de catarata. “É uma evolução? Trata-se de um modismo? É uma verdadeira revolução? Quais as vantagens reais para os pacientes da adoção dessa tecnologia? Se a catarata é a maior causa de cegueira reversível do mundo, todos os pacientes terão a chance de usufruir das vantagens dessa nova tecnologia?”, questiona o médico.
Com tantas perguntas em mente e com muita experiência no emprego da nova tecnologia, a opção natural foi a de registrar tudo passo a passo. “O livro foi escrito com o propósito de compartilhar com outros cirurgiões a minha experiência pioneira em relação à introdução da tecnologia femtosegundo no Brasil, cujo refinamento cirúrgico é a obtenção de um equivalente esférico refracional pós-operatório de + 0,50 dioptrias e um índice de satisfação subjetivo acima dos 95% dos pacientes operados de catarata e/ou cirurgia refrativa intraocular. Desejo iniciar uma discussão ampla com outros profissionais para tratar da introdução de conceitos que irão mudar a técnica e a tecnologia empregadas hoje na cirurgia de catarata para sempre. Quanto mais cirurgiões estiverem empregando a nova tecnologia, maiores serão os avanços tecnológicos e mais consistentes serão os resultados dos pacientes”, defende o médico, que é membro da ALACCSA, Associação Latino-Americana de Cirurgiões de Córnea, Catarata e Cirurgias Refrativas.
Centurion enumera as dificuldades na introdução das novas tecnologias na Oftalmologia no Brasil, “resultantes de políticas discutíveis na saúde e na política externa do País que acarretam atrasos na introdução de novas formas terapêuticas numa média de 2 anos, em detrimento da saúde da população e do avanço científico do País”. O oftalmologista conta que suas primeiras cirurgias empregando o laser femtosegundo foram realizadas no exterior, em parceria com colegas estrangeiros, onde a tecnologia já estava regulamentada pelos órgãos fiscalizadores.
Em seguida, didaticamente, o médico discorre sobre o emprego do laser na Oftalmologia, os parâmetros do laser LenSx®, a trajetória da adoção de uma nova tecnologia, a técnica passo a passo, as possíveis complicações, como é a curva de aprendizado (registros que deram origem ao Projeto CICAFE – Cirurgia da Catarata com Femtosegundo sem Traumas, as situações especiais para o emprego da tecnologia (ceratotomia radial, catarata brunescente, catarata nigra, catarata traumática, catarata branca normotensa, catarata branca intumescente) e as controvérsias que cercam o tema.
“Destaco também o relevante e novo papel que o anestesiologista e o serviço de enfermagem desempenham nesse processo. Esses profissionais também tiveram que atualizar seu conhecimento teórico e prático no que diz respeito à tecnologia dos equipamentos e técnicas utilizadas nessa cirurgia”, destaca o diretor do IMO.
Por fim, Virgílio Centurion destaca que após a leitura do livro, o oftalmologista deve refletir sobre a adoção e o emprego da nova tecnologia. “O femtosegundo se propõe a melhorar o índice de satisfação dos pacientes por meio de aumento da previsibilidade refracional e melhoria da técnica da cirurgia de catarata, buscando maior segurança com índice mínimo de efeitos colaterais. Porém, devemos considerar que é uma tecnologia em evolução inicial, diferentemente da facoemulsificação. Será preciso adotar o femtosegundo ainda na residência médica? Será melhor adotar a tecnologia após adquirir alguns anos de experiência? Ou seria melhor adotar apenas no final da carreira? Em todas as situações, minha recomendação é adotar, aprender, sair da zona de conforto, ou em breve, o próprio profissional pode estar fora do mercado”, defende o médico.
Evolução da cirurgia de catarata
Fonte: Sociedade Brasileira de Catarata Refrativa