As quedas são eventos frequentes e limitantes na terceira idade. São considerados um marcador de fragilidade. Para muitos é a institucionalização do declínio na saúde do idoso. “Desfazer esta impressão é muito importante. As quedas não são apenas decorrentes do envelhecimento. Elas podem significar que há algo de errado com a saúde ou com o ambiente onde o idoso habita”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do Instituto de Moléstias Oculares, IMO.
Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, as quedas são a primeira causa de acidentes em pessoas acima de 60 anos. Cerca de 5% das quedas levam à fraturas. As mulheres sofrem mais fraturas que os homens, entretanto, a mortalidade devido às fraturas é maior entre eles. Em muitos casos, o próprio idoso tende a sub-relatar quedas, muitos creditam à idade seus problemas de equilíbrio e marcha, fazendo com que estas dificuldades de mobilidade não sejam detectadas, até que uma queda com uma conseqüência grave ocorra. “O risco de cair, realmente, aumenta significativamente com o avançar da idade, o que coloca esta síndrome geriátrica como um dos grandes problemas de saúde pública, devido ao aumento da expectativa de vida da população no Brasil”, diz Centurion.
Ocorrência de quedas por faixas etárias a cada ano:
- 32% em pacientes de 65 a 74 anos;
- 35% em pacientes de 75 a 84 anos;
- 51% em pacientes acima de 85 anos;
- No Brasil, 30% dos idosos caem ao menos uma vez ao ano.
Fonte: Projeto Diretrizes AMB-CFM
De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria, as pessoas caem por diversas razões que englobam doenças agudas como isquemia cerebral, doenças cardíacas que diminuem a pressão arterial, ou ainda por conseqüências naturais do envelhecimento que podem ser tratadas, tais como:
O uso de medicamentos também é causa muito comum de quedas nas pessoas com mais de 60 anos. Os idosos tendem a apresentar varias doenças crônicas concomitantes e por isto usam vários remédios ao mesmo tempo, o que pode aumentar o risco de quedas. “Os idosos que caem, provavelmente, o fazem por mais de uma razão e com freqüência é possível tratar estas causas e com isto evitar as quedas. Por isto é importante procurar auxilio médico e não usar remédios sem a prescrição do especialista”, defende Virgilio Centurion.
Incidência de óbitos por quedas:
- As quedas têm relação causal com 12% de todos os óbitos na população geriátrica;
- São responsáveis por 70% das mortes acidentais em pessoas com 75 anos ou mais;
- Constituem a 6ª causa de óbito em pacientes com mais de 65 anos;
- Naqueles que são hospitalizados em decorrência de uma queda, o risco de morte no ano seguinte à hospitalização varia entre 15% e 50%.
Fonte: Projeto Diretrizes AMB-CFM
Com a visão em dia
O declínio da acuidade visual é uma das causas mais significativas das quedas em idosos. Com o envelhecimento, o tamanho e a resposta das pupilas diminuem. Ao entrar em um recinto escuro ou sair à noite, o indivíduo idoso tem o risco de queda aumentado, pois o tempo necessário para que o olho senescente atinja um nível de sensibilidade à luz igual ao de uma pessoa jovem é maior. “Por conseqüência, indivíduos mais velhos precisam de iluminação adequada para andar com segurança”, diz Virgílio Centurion, que também é membro da ALACCSA, Associação Latino-Americana de Cirurgiões de Córnea, Catarata e Cirurgias Refrativas.
Com o envelhecimento, também pode haver um declínio na percepção da profundidade. A alteração da percepção de profundidade pode levar à quedas associadas com subir e descer escadas. “No processo natural de envelhecimento, a visão, a partir dos 60 anos passa a apresentar sinais de deterioração”, diz Centurion.
Prevenindo quedas
Para incentivar a prevenção das quedas dos idosos, o oftalmologista Juan Caballero, que também integra o corpo clínico do IMO, enumera os principais exames oftalmológicos que devem ser realizados na terceira idade. Além dos periódicos exames de refração (que diagnosticam miopia, hipermetropia e astigmatismo), o exame de motilidade ocular também é muito importante, “pois detecta o potencial de mobilidade da musculatura do olho, revelando se existe alguma limitação à movimentação, incoordenação; dessincromia ocasionando visão dupla, dores de cabeça ou ainda a presença de doenças oculares, endócrinas ou cerebrais”, diz o médico.
Quando a idade avança é necessário também a realização do exame de fundo de olho por meio do mapeamento da retina. “Este exame visa o estudo de toda a retina, em particular da região periférica, que não pode ser observada pela oftalmoscopia convencional. É muito útil no diagnóstico e caracterização do descolamento de retina, da retinopatia diabética, das uveítes e de diversas retinopatias”, explica o oftalmologista Juan Caballero.
Outro exame preventivo importante, apontado pelo oftalmologista, é a biomicroscopia do segmento anterior. “Esta avaliação é fundamental para a detecção precoce da presença, localização, extensão das opacidades cristalinianas, para a revelação de possíveis fragilidades de zônula e/ou ectopia ou luxação do cristalino, sinais de inflamação intra-ocular e ainda para a avaliação da higidez da córnea, íris e ângulo da câmara anterior do olho”, informa o médico.
A tonometria é também apontada como um exame essencial, pois é capaz de rastrear o aparecimento do glaucoma. “Ao medir a pressão ocular, por meio do tonômetro, o oftalmologista pode detectar a presença de hipertensão ocular, que pode ou não ser diagnosticado como glaucoma, de acordo com a alteração ou não do campo visual e da papila óptica”, explica Caballero.
Evitar a queda é considerado hoje uma conduta de boa prática geriátrico-gerontológica, tanto em casa, quanto em hospitais, em instituições de longa permanência, sendo, para estes dois últimos um dos indicadores de qualidade no atendimento prestado a idosos. “Além disso, evitar que o idoso caia constitui-se numa política pública indispensável, não só porque o evento afeta de maneira desastrosa a vida dos idosos e de suas famílias, como também requer expressivos recursos econômicos no tratamento de suas conseqüências”, defende Virgilio Centurion.
Orientações gerais para prevenir o acometimento de quedas: