Embora pareça simples, a instilação de colírios nos olhos merece ser orientada, uma vez que, se feita de maneira inadequada, poderá causar problemas para o paciente. “A aplicação incorreta do medicamento pode causar danos aos olhos, por excesso de força ou pressão em olhos recentemente operados; provocar o desperdício do medicamento, pela sua instilação em excesso ou por instilá-lo fora do olho; e por fim, pode causar, ainda, uma maior absorção do medicamento pelo nariz, aumentando os efeitos colaterais do medicamento”, explica a oftalmologista Sandra Alice Falvo, do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
O colírio aplicado nos olhos tem efeitos no corpo todo. “A parte mais perigosa é a gota que chega ao nariz por engano (por isso sentimos aquele gosto ruim na boca e na garganta ao aplicar alguns colírios), pois sua parede interna absorve o colírio como uma esponja, levando o medicamento para a circulação sanguínea”, explica a médica. Uma vez no sangue, o colírio vai para o corpo todo e pode provocar reações adversas, dependendo da quantidade aplicada.
Para aumentar o tempo de contato do colírio com os olhos, potencializando seus efeitos e reduzindo os efeitos adversos no corpo, a médica recomenda que “após a aplicação do colírio, o paciente deve manter os olhos fechados por aproximadamente dois minutos e fazer uma leve pressão sobre o canto interno dos olhos. Isso reduz a quantidade de medicamento que vai para o nariz”, diz Sandra Alice.
Como aplicar o medicamento?
A seguir, a oftalmologista lista os procedimentos que devem ser adotados para a correta instilação de colírios nos olhos.
Quando realizada pelo próprio paciente:
- O ideal é que o paciente deite-se de barriga para cima, em especial, crianças, ou recoste-se em uma poltrona, inclinando a cabeça para trás;
- Em seguida, deve fechar os olhos sem apertar e colocar uma gota no canto interno do olho;
- Depois, deve piscar e mover a cabeça no sentido de favorecer a entrada do colírio no olho. O recomendável é manter os olhos fechados e a cabeça inclinada para trás por dois minutos.
Quando realizada por outrem:
- O paciente deve estar sentado, com a cabeça inclinada um pouco para trás;
- Quem irá aplicar o colírio, deve pedir que o paciente olhe para cima, que vire os olhos para a testa, e com o dedo indicador ou o médio deve puxar, levemente, a pálpebra para baixo, com cuidado, para não machucar os olhos com as unhas;
- Em seguida, deve depositar uma gota de colírio na região interna dessa pálpebra e pedir que o paciente mantenha os olhos fechados por dois minutos.
Não à automedicação
“Apesar do seu aspecto aparentemente inofensivo, o colírio é um medicamento como outro qualquer, que tem indicações específicas, contraindicações e efeitos colaterais e jamais deve ser utilizado sem orientação ou acompanhamento médico”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do IMO. A população só deve fazer uso de colírios, após consultar um oftalmologista, uma vez que é no exame oftalmológico que as causas da vermelhidão, da irritação ou do inchaço dos olhos poderão ser detectadas.
“Olhos irritados e vermelhos podem ter diversos significados. O paciente pode apresentar uma reação inflamatória crônica de fundo alérgico; pode haver a presença de pterígio ou de outra membrana no local; a vermelhidão pode ser decorrente do aumento da pressão ocular ou, ainda, o problema pode ser constitucional, ou seja, os vasos sangüíneos da pessoa são mais sensíveis à dilatação por qualquer mecanismo irritativo ou pela ingestão de bebidas alcoólicas”, explica Virgilio Centurion.
O médico também alerta para o perigo do uso abusivo dos colírios, mesmo quando prescritos por um oftalmologista. “Colírios à base de corticoides, associados ou não a antibióticos, são muito usados pela população, pois aliviam sintomas diversos de vermelhidão e desconforto ocular, mas trazem vários efeitos colaterais perigosos. Podem, por exemplo, provocar infecções oculares, causar catarata, aumentar a pressão dos olhos (glaucoma), levando até mesmo à cegueira”, afirma.
O uso indiscriminado dos colírios antibióticos pode causar resistência aos mesmos, por bactérias mutantes, além de provocar forte alergia. Há colírios que podem desencadear irritações oculares graves, crises de asma, palpitações, intoxicação grave e até parada cardíaca, seguida de morte. ”Em casos de irritações oculares muito freqüentes ou crônicas, o mais prudente é procurar um oftalmologista e seguir suas orientações”, defende o diretor do IMO.